Vieiro e Costa Bacelo, as duas propriedades da ALTRI cuja gestão se encontra cedida à Montis por protocolo, têm tido menos actividade de gestão do que gostaríamos. Ambas as propriedades possuem uma boa regeneração, o que faz com que mesmo com a pouca gestão aqui realizada, alguns resultados vão aparecendo.
Durante o ano de 2019 fizemos um esforço para reforçar a gestão de Vieiro. Alugámos uma casa em Deilão, pela primeira vez organizamos aqui um Campo de Trabalho Internacional, um Bioblitz e vários voluntariados. Tivemos também os voluntários do LIFE Volunteer Escapes sediados em Deilão durante vários dias, durante os quais estiveram a realizar acções de gestão em Vieiro.
No dia 1 de Outubro fomos à propriedade fazer um balanço do que está feito, de forma a alinhavar a preparação do Plano de Gestão da propriedade para 2020. Abaixo fazemos um resumo do que observamos.
Regeneração do carvalhal e galerias ripícolas: julgamos que a regeneração do carvalhal de Vieiro, nomeadamente nos fundos de vale e antigas áreas cultivadas, é o ponto mais forte da propriedade, e a sua condução será a melhor forma de acelerar a estabilização de um copado mais fechado, mais eficiente na autogestão de combustíveis finos. As galerias ripícolas estão estabilizadas, tendo recuperado rapidamente após o fogo de 2016.
Regeneração do Carvalhal em Vieiro |
Carvalhos conduzidos durante o Campo de Trabalho Internacional de 2019, com galeria ripícola ao fundo. |
Gestão de invasoras: no centro da propriedade temos intervencionado com alguma regularidade um núcleo de mimosas com plantas entre 1 a 3 m de altura. Os resultados obtidos até agora são muito incertos: a mancha ocupada manteve-se mais ou menos a mesma, sendo que uma pequena parte, junto ao caminho de acesso, parece ter expandido. Algumas das mimosas secaram (aparentemente as que foram mais bem descascadas); no entanto foram feitos vários descasques em más condições ou com técnicas não eficientes, que levaram a novas rebentações e a que algumas das árvores não tivessem morrido.
Continuaremos as intervenções neste núcleo, de preferência com mais qualidade de descasque, e colocando tónica sempre que possível no arranque (conselho que nos foi dado pelo grupo Invasoras.pt na formação decorrida durante o Campo de Trabalho Internacional).
Além deste núcleo central tencionamos em 2020 dar início a intervenções num outro núcleo situado no fundo de um dos vales da propriedade (imagem abaixo).
Já relativamente às hakeas, os arranques realizados mostraram-se bastante eficientes. Nas áreas intervencionadas com arranque apenas surgem pequenas hakeas pontuais que escaparam nas intervenções anteriores, e que arrancaremos com a passagem de novos voluntários no terreno.
Área de mimosas intervencionada até à actualidade. Árvores secas e/ ou a perder folhas ao fundo, e algumas rebentações radiculares ou árvores que não morreram com o descasque em primeiro plano. |
Mimosa mal descascada que se manteve viva tendo regenerado a casca. |
Condução do pinhal: a Montis iniciou a condução de uma zona de pinhal que se encontra em regeneração na sequência do fogo de 2016. Realizaram-se em 2019 podas e desrames, de forma a estimular o crescimento em altura com vista a uma futura resinagem e à diversificação do mosaico de paisagem, tirando partido do que se encontra já a regenerar. Toda a vegetação autóctone encontrada na zona de pinhal é igualmente conduzida em altura (surgem alguns carvalhos e sobreiros nessa zona da propriedade.)
Área de pinhal que se encontra a ser conduzido em altura, do lado de cima da estrada de acesso, onde foi realizado arranque de hakeas. |
Área de pinhal que se encontra a ser conduzido em altura, do lado de baixo da estrada de acesso, onde foi realizado arranque de hakeas. |
Tabuleiros para gaios: Foi colocado um tabuleiro para gaios na propriedade, que actualmente se encontra a ser utilizado com reposição de bolota e monitorizado com recurso a fotoarmadilhagem. Não há ainda resultados que nos permitam tirar conclusões sólidas relativamente à utilização dos tabuleiros pelos gaios. Até à actualidade não há registos de utilização.
Plantações: na sequência do protocolo com a Mossy Earth realizaram-se várias plantações em Vieiro na época 2018/ 2019. As plantações foram feitas em fundos de vale ou em antigos socalcos agrícolas, locais onde há maior qualidade de solo e mais disponibilidade de água. As taxas de sobrevivência avaliadas até à data situam-se em volta dos 40%.
2019 trouxe também boas surpresas no que diz respeito aos registos de biodiversidade feitos em Vieiro (ver o final do post).
Salamandra lusitaniza (Chioglossa lusitanica) encontrada no acacial. |
Em breve teremos os actuais voluntários do LIFE Volunteer Escapes novamente em Vieiro, altura em que os esforços serão colocados na condução do carvalhal e na plantação.
Este ano de reforço do trabalho em Vieiro será uma boa base para em 2020 ser possível consolidar um pouco mais a gestão da propriedade.
Jóni Vieira
Registos de biodiversidade em Vieiro:
Morcegos
Morcego-negro (Barbastella barbastellus)
Morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus)
Morcego-de-Kuhl (Pipistrellus kuhlii)
Morcego-de-ferradura-pequeno (Rhinolophus hipposideros)
Morcego-de-Savi (Hypsugo savii)
Morcego-arborícola-pequeno (Nyctalus leisleri)
Morcego-de-franja-do-sul (Myotis escalerai)
Eptesicus sp.
Avifauna
Águia-d'asa-redonda (Buteo buteo)
Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica)
Andorinha-dáurica (Cecropis daurica)
Andorinhão-preto (Apus apus)
Carriça (Troglodytes troglodytes)
Chapim-azul (Cyanistes caeruleus)
Chapim-carvoeiro (Periparus ater)
Chapim-rabilongo (Aegithalos caudatus)
Chapim-real (Parus major)
Corvo (Corvus corax)
Cotovia-das-árvores (Lullula arborea)
Dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula)
Escrevedeira (Emberiza cirlus)
Estrelinha-real (Regulus ignicapilla)
Felosinha-ibérica (Phylloscopus ibericus)
Ferreirinha (Prunella modularis)
Gaio (Garrulus glandarius)
Gralha-preta (Corvus corone)
Melro (Turdus merula)
Melro-d'água (Cinclus cinclus)
Milheirinha-europeia (Serinus serinus)
Pardal-do-telhado (Passer domesticus)
Pardal-montês (Passer montanus)
Peto-real-ibérico (Picus viridis sharpei)
Pica-pau-malhado (Dendrocopos major)
Pintarroxo-de-bico-escuro (Linaria cannabina)
Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula)
Rabirruivo (Phoenicurus ochruros)
Rouxinol-bravo (Cettia cetti)
Tentilhão (Fringilla coelebs)
Tordo-pinto (Turdus philomelos)
Toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla)
Toutinegra-dos-valados (Sylvia melanocephala)
Trepadeira-do-sul (Certhia brachydactyla)
Verdilhão (Chloris chloris)
Répteis e anfíbios
Rã-ibérica (Rana iberica)
Licranço (Anguis fragilis)
Salamandra-lusitanica (Chioglossa lusitanica)
Flora
Carvalho-alvarinho (Quercus robur)
Carvalho-americano (Quercus rubra)
Sanguinho (Frangula alnus)
Feto-pente (Struthiopteris spicant)
Feto-do-monte (Pteridium aquilinum)
Olhos-de-mocho (Tolpis barbata)
Trevo-cervino (Eupatorium cannabinum)
Espargueira-espinhosa (Asparagus acutifolius)
Torga-ordinária (Calluna vulgaris)
Mimosa (Acacia dealbata)
Pinheiro-bravo (Pinus pinaster)
Eucalipto-glóbulo (Eucalyptus globulus)
Invertebrados
Vespa do Quercus robur (Andricus kollari)
Libelinha-vermelha-pequena (Ceriagrion tenellum)
Gaiteiro-azul (Calopteryx virgo)
Escaravelho milabris-dos-4-pontos (Mylabris quadripunctata)
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