Depois de quase 40 anos a trabalhar todos os dias, o dia todo, a ideia de ficar com o tempo livre para mim foi estranha. Ou melhor, foi dividida entre uma enorme euforia e o receio do tédio, do vazio, da possibilidade de ficar sem estímulo nem objetivos no dia a dia, que isto de ter vocação para Cinderella nunca foi muito a minha história.
Eu não sabia como iria ser a vida sem a rotina imposta pelo trabalho, e senti o medo, tantas são as histórias menos boas que eu já tinha ouvido. Mas como eu não gosto de ter medo, tive que tomar conta de mim. Lembrei-me de quais as causas que me tocam, de quais as instituições com as quis já tinha alguma ligação e tomei a iniciativa de contactar.
Foi assim que me pus a escrever e enviei um e-mail para a Montis, com uma breve descrição de quem eu era e a informar que contava estar disponível para colaborar, como voluntária, dentro de pouco tempo. Pouco depois, ainda eu estava a trabalhar, recebo um telefonema do João, a pedir mais detalhes sobre a minha disponibilidade e intenções. E foi assim, entre telefonemas, propostas de visita à propriedade da Malveira e a participação no colóquio "Ecossistemas de pequenas linhas de água, como conservar?", que fui conhecendo os elementos da Montis e o trabalho que têm para fazer. Foi assim que me apercebi das tarefas concretas em que eu poderia ajudar.
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Depois foi só uma questão de organização pessoal: escolher um dia da semana que poderia ficar reservado para esta atividade e fazer a proposta. A proposta seguiu cheia de ‘ mediante formação adequada para’ e outras coisas que tais, que a minha vida profissional tinha sido toda passada num banco, e eu moro na cidade, numa casa sem quintal. Então, a ligação à terra está nas memórias das férias de infância, passadas em Alvarenga. Está na participação na vindima, que a família ainda faz todos os anos. Está na ajuda pontual a tratar do jardim da casa ou até na ida à horta ver o que há e decidir a refeição seguinte, nos momentos em que estamos na aldeia.
Isto é: Eu não sei nada. Nem de plantas infestastes nem dos métodos para
as eliminar. Eu não sei nada sobre regeneração natural nem dos métodos
para a favorecer. Mas eu estava disposta a aprender e a Montis teve a
disponibilidade para me enquadrar.
A efetuar ações de controlo de invasoras. |
E assim, na semana passada fiz a minha 1ª ‘ação em autonomia’: lá fui eu, de manhã cedo, para a Malveira. O dia estava particularmente bonito. Não havia ninguém a passear no terreno ( não havia outros carros estacionados) e eu fiquei ali a descascar acácias a manhã toda.
Devia ser perto das 13h quando dei a tarefa por terminada e fui passear
pelo terreno. A ideia era desfrutar um pouco daquele lugar. Mas depressa
o olhar para numa pequena acácia de um palmo, a surgir entre os
carvalhos e o impulso foi arrancá-la antes que crescesse
mais. E depois dessa acácia vê-se outra e mais uma ou duas ou um cento
delas! Porque as acácias são aos centos. E vão-se arrancando porque é
possível, enquanto é possível. Porque se está lá e elas ainda são
pequenas. E é assim que se toma conta da da Natureza.
Ou, pelo menos, assim também se pode ajudar a tomar conta da natureza.
Quando acabei o passeio devia passar das 14:30. Fui ao carro buscar o
picnic e levei-o para o moinho onde me sentei a apanhar sol e a olhar
para o verde da paisagem e para o azul do céu.
Que bem passada foi aquela manhã grande. Que bom que foi ter dado conta que sorria. Acho que passei toda a manhã com um sorriso nos lábios.
Sara Teles
Gostaram do relato da Sara? Têm alguma ideia ou sugestões em como poderiam colaborar com a MONTIS? Teremos todo em gosto em conversar.
Além disso, dia 10 de Fevereiro há voluntariado na Malveira, onde daremos seguimento ao controlo de espécies invasoras e plantação de espécies nativas. Para se inscrever, contacte-nos por email para o montisacn@gmail.com ou por telefone 232 774 040 / 925 840 014. Podem ver mais informações nesta ligação.
Gostava que aparecesse alguém ....que estivesse disponível motivada ...para criar e realizar um projecto idêntico no Polje Mira Minde 2 Fev. DIA MUNDIAL DAS ZONAS HÚMIDAS ... á espera de interessados para melhor conservação e dinamização ... imensas potencialidades que poderiam ser concretizadas ...
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