Ontem, dia 9 de março de 2025, a equipa técnica da MONTIS executou uma visita à propriedade de Vieiro. Esta, foi a propriedade gerida pela MONTIS, mais afetada pelos incêndios rurais ocorridos em setembro de 2024. A ocorrência responsável foi um fogo que começou no concelho de Castro Daire e que lavrou mais de 34 mil hectares até ser extinto no concelho de Arouca (tendo inclusivé lavrado também na propriedade de Costa Bacelo).
Como expresso em publicações anteriores da MONTIS, o incêndio teve uma intensidade muito elevada na vegetação do Vieiro devido à conjugação de vários fatores: grande acumulação de combustíveis nas proximidades, declive muito acentuado e alinhamento dos fatores meteorológicos.
Já tínhamos concluído na visita imediata ao pós-fogo que a forte intensidade de chama foi transformadora da paisagem existente. Sete meses depois reavaliámos a mortalidade e caracterizámos o processo de sucessão natural secundária (processo de regeneração da paisagem após uma perturbação praticamente total):
- mortalidade muito elevada das plantas herbáceas e eliminação do seu banco seminal;
- mortalidade da parte aérea das plantas arbustivas (matos esclerofilos, medronheiros e adernos em que se verifica rebentação de toiça);
- mortalidade muito elevada da regeneração natural mais jovem de plantas arbóreas (quercíneas e pinheiros);
- em relação ao arvoredo nativo adulto e jovem adulto (mancha de carvalhal adulto e manchas de carvalhal em condução), aparentemente, não se registou mortalidade, verificando-se a normal rebentação primaveril;
- já relativamente às manchas de pinhal-bravo, verificou-se que as árvores com mais de 12 a 15 centímetros, na generalidade, sobreviveram com cerca de 50% de copa consumida; já nos indivíduos de dimensões inferiores a mortalidade foi quase total.
Tínhamos verificado na visita imediatamente após o fogo que “O eucaliptal não ardeu completamente, pois dada a sua altura, o fogo não atingiu as copas”, não obstante, os tecidos da parte não consumida das copas acabaram por morrer, facto que conseguimos constatar pela não existência de rebentação aérea. Nos eucaliptos pontuais da propriedade do Vieiro apenas se verifica rebentação de toiça.
Verifica-se também alguma germinação pós-fogo tanto de eucalipto como de pinheiro-bravo.
No que toca à vegetação invasora – Acacia dealbata e Hakea sericia, não se verifica para já dispersão seminal. Nas manchas de Acacia dealbata verifica-se rebentação de toiça e raiz e mortalidade generalizada da copa, já as Hakeas não rebentam de toiça e apresentam mortalidade generalizada da copa. Não obstante, é espectável e até provável, que ocorra dispersão por germinação destas duas espécies (especialmente a Hakea spp., que pode ocorrer a mais de uma centena de metros da planta progenitora e por isso possa ser mais difícil de detetar).
As áreas intervencionadas pela MONTIS através de plantações, desde 2019 até 2023, nesta propriedade, não sofreram danos visíveis, uma vez que na maioria foram realizadas nas proximidades de linhas de água e que a gestão recorrente permitiu reduzir as cargas de combustíveis acumuladas. A exceção foram as duas plantações realizadas fora do sistema húmido: uma na encosta de pinhal e outra na proximidade do núcleo de acacial mais intervencionado.
Dada a mortalidade generalizada das copas dos eucaliptos pontuais, os troncos destes, podem ser um recurso interessante para a execução de paliçadas, e outras infraestruturas de engenharia natural.
Por se tratar de uma propriedade muito declivosa, ventosa e com solos delgados (e consequentemente muito sujeita à erosão), a percentagem atual de solo nú é preocupante, estimada entre 75 a 85 % fora das envolventes das linhas de água. A falta de cobertura vegetal do solo provocou assoreamento de linhas de água, lixiviação de partículas de solo e até mesmo derrocadas. A aplicação de metodologias de engenharia natural é uma prioridade para a MONTIS na propriedade de Vieiro.
Para além da avaliação do estado da paisagem e dos seus processos dinâmicos, esta visita técnica decorreu no âmbito da preparação das próximas atividades organizadas pela MONTIS, o colóquio relativo a gestão de áreas ardidas da próxima sexta-feira e o voluntariado mensal do próximo sábado.
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