Colóquio MONTIS: Recuperação de áreas após o fogo

No dia 11 de abril decorreu o colóquio da MONTIS “Recuperação de áreas após o fogo”, no Cine Teatro Jaime Gralheiro, em São Pedro do Sul, em parceria com a CIM Viseu Dão Lafões e o Município de São Pedro do Sul (ver o programa aqui).

A manhã deste dia arrancou com as palavras de boas-vindas do Presidente da Câmara Municipal de São Pedro do Sul, Vítor Figueiredo, do Diretor Regional Adjunto da Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Centro do ICNF, Dr. Elmano Duarte Freitas Silva e da Presidente da Direção da MONTIS, Teresa Mª Gamito que deu início aos trabalhos.

Iniciou-se, de seguida, o painel intitulado “Regeneração de áreas ardidas e promoção do restauro ecológico”, composto por três oradores.

Paula Maia, investigadora do CESAM e do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro relembrou que a presença do fogo no nosso território é antiga e que é um elemento de equilíbrio dos ecossistemas. Com o título “Recuperação espontânea da vegetação após incêndios florestais”, apresentou como as plantas lidam com o fogo e como se desenvolve a regeneração natural em diferentes tipos de habitat. Para terminar, mostrou que o fogo altera a composição das comunidades, mas que também pode ser um aliado em algumas circunstâncias. Veja aqui o suporte digital da apresentação.

De seguida, Juliana Monteiro, investigadora e aluna de doutoramento da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, explicou à plateia “como o musgo pode dar uma nova vida aos solos depois dos incêndios”. A apresentação mostrou o papel dos musgos na fixação de nutrientes e no aumento da infiltração de água, essencial para a regeneração do solo após um incêndio, e os estudos que estão a ser desenvolvidos para a sua utilização enquanto ferramenta para o pós-fogo. Veja aqui o suporte digital da apresentação.

Luís Lopes, Vice-presidente da Direção da MONTIS, foi o último orador do painel e apresentou o trabalho que temos desenvolvido nas propriedades que gerimos após a passagem de um fogo. Foram apresentados os objetivos centrais da gestão das propriedades, a destacar o de aumentar a resiliência dos terrenos aos riscos naturais, como o fogo. Serviram de exemplo as propriedades de Carvalhal de Vermilhas e de Vieiro, ambas afetadas por incêndios durante a gestão da MONTIS (duas vezes no caso de Vieiro). Veja aqui o suporte digital da apresentação.

Após uma pausa para café. iniciou-se a mesa-redonda “Gestão Pós-Fogo: o que fazer a seguir aos incêndios”, moderada por Paula Pereira da CIM Viseu Dão Lafões. 

Joana Carinhas, pelo ICNF, abordou as várias fases de recuperação após um incêndio e frisou a importância das “ações de estabilização realizadas no imediato após o fogo”. O complexo dos incêndios rurais do Vale do Paiva (setembro 2024) foi apresentado como exemplo da forma como o ICNF se tem coordenado para agir em situações de emergência, bem como os desafios que enfrenta na gestão do território. Veja aqui o suporte digital da apresentação. 

António Casais, Vereador do Município de São Pedro do Sul, falou sobre as medidas de estabilização de emergência previstas para o concelho e sobre as principais dificuldades que a autarquia tem enfrentado na gestão dos fogos rurais. Referiu, nomeadamente, o facto de o concelho ser ocupado por uma percentagem significativa de floresta e de os recursos que a autarquia tem à disposição nem sempre permitirem responder a todas as necessidades, tanto de prevenção como de resposta de emergência após incêndios.

Hélia Marchante, investigadora da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra e CERNAS, abordou o tema das espécies invasoras que beneficiam com a passagem do fogo e o que podemos fazer para mitigar este problema. A investigadora relembrou que a prevenção, deteção precoce e resposta rápida são fundamentais em situações de invasão/reinvasão após o fogo para que se possa impedir de forma planeada que estas plantas alterem os ecossistemas. Veja aqui o suporte digital da apresentação. 

A última intervenção coube a Pedro Rocha e Daniela Sá da empresa Terrafarmers. Com o título “Drones como abelhas para emergência pós-incêndio” apresentaram-nos o trabalho que têm desenvolvido em processos de sementeira e de dispersão de fertilizantes com recurso a esta tecnologia inovadora e as potenciais contribuições para reflorestação, sistemas agroflorestais e combate a incêndios. Veja aqui o suporte digital da apresentação. 

Após o almoço, visitámos as zonas de S. Macário na proximidade das aldeias da Macieira e da Pena que, após os últimos incêndios do ano passado, foram alvo de intervenções de estabilização de emergência. Elmano Silva e Joana Carinhas do ICNF guiaram os participantes por vários locais onde decorreram as intervenções.

Em duas paragens, a primeira perto da aldeia de Macieira e a última à entrada da aldeia da Pena, explicaram que os objetivos foram não só o controlo da erosão e a proteção da rede hidrográfica, mas também a defesa das infraestruturas e habitats mais sensíveis. Baseadas em técnicas de engenharia natural, as represas reduzem a velocidade da água promovendo a deposição dos sedimentos e evitando assim a contaminação a jusante e as barreiras de contenção minimizam a erosão do solo.

Pequena represa na linha de água, à direita e barreiras de contenção na encosta, à esquerda
 

Barreiras de contenção na encosta sobre a Aldeia da Pena

A interação entre os participantes permitiu discutir a importância de agir rapidamente depois de um incêndio e que a sociedade civil pode ter um papel relevante na mitigação das consequências que estes fenómenos provocam no ecossistema.

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