Quase dois anos de voluntariado na Malveira

Passaram-se quase 2 anos desde que iniciei este modelo de colaboração com a MONTIS.

Dois anos de idas semanais à Malveira, a fazer o pequeno trabalho do dia a dia, numa propriedade que é bem maior do que o tempo que eu lhe consigo dedicar.

Neste tempo todo, conheci algumas pessoas fantásticas, algumas Apps que são hoje as que me prendem por mais tempo agarrada ao écrã e aprendi imensas coisas. Mas o que tem um impacto, em termos de paisagem, é o resultado acumulado do pequeno trabalho que, todo junto, acaba por não ser tão pequeno assim.

Se nas Primaveras houve um esforço grande a arrancar os indivíduos jovens, das sementes recentemente germinadas, no Verão, descasco mais acácias adultas e arranco menos. Hoje, dou prioridade às Acácias Negras porque aprendi que ainda não temos por cá predadores naturais que neutralizem a enorme quantidade de sementes que elas produzem. Esforço-me por manter caminhos abertos, cortando e arrancando silvas, de modo a permitir chegar a sítios que, de outra forma, ficariam completamente inacessíveis. Ainda assim, é inevitável ver uma ou outra Acácia bem no meio dum silvado, completamente fora do alcance do meu braço. E quem diz uma Acácia, diz uma Tintureira, uma Avoadinha...

Mas é gratificante constatar que aquelas zonas que estiveram completamente atapetadas de sementes germinadas, que mais pareciam barquetas de agrião ou feijão germinados numa prateleira de supermercado, ficaram praticamente limpas, tendo assim dado espaço e vantagem competitiva à regeneração natural em geral e aos diferentes Quercus em particular. É gratificante ver que zonas que estiveram completamente verdes (daquele verde que não queremos ter cá), hoje são um cemitério de troncos secos, no meio dos quais foi possível plantar Pilriteiros, Aroeiras, Medronheiros, Murtas e tantas outras espécies autóctones.

Este ano tive a alegria de ver, pela primeira vez, um prado coberto de orquídeas selvagens (Serápias). Quem sabe se no próximo ano verei outras espécies de orquídeas? Penso que faz sentido esperar encontrá-las por lá.

Vi, pela primeira vez também, a urze das vassouras em flor, lindíssima, e comecei a identificar as aves que por lá cantam com ajuda do 'Merlin Bird Id'.

Tem sido um tempo cheio de descobertas.

Quem dera que as pessoas que frequentam o local saibam respeitar a natureza e honrar o privilégio que lhes é dado, ao poderem usufruir dele.

Sara Teles
(a Gestora de paisagem da MONTIS)

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