A perspectiva da equipa técnica

No 3º fogo controlado no baldio de Carvalhais, no dia 11/12/2018, a equipa técnica da Montis separou-se e acompanhou as equipas de técnicos de fogo controlado (formandos) nos limites da parcela a queimar. Na equipa nascente tivemos o Jóni com os voluntários de longa duração, com a equipa poente a Margarida e o estagiário Manuel Machado e a acompanhar a equipa norte esteve a Rita.
A Carolina deu o seu testemunho em comparação com o que presenciou no 2º fogo controlado e a Paula, uma perspectiva de alguém que trabalha mais com contas e não tanto de mãos na terra.



Jóni - Equipa Nascente 
"As ignições tiverem início na parte superior da faixa de contenção a Leste da área a queimar, onde esta encontra o caminho florestal existente a norte. Aqui os principais desafios seriam garantir a ignição e entrada do fogo na parcela evitando saltos para a parcela contígua (apesar da alta humidade do solo e vento fraco ou inexistente). Tudo isto numa faixa de contenção particularmente difícil pela inclinação do terreno e existência de afloramentos rochosos.




No início da queima, mais ou menos a meio do dia, o fogo foi entrando na parcela, mas com o decorrer da tarde esta entrada tornou-se mais difícil, tendo-se optado por queimar a contiguidade da faixa até ao fim, na estrema sul. Esta opção permitirá que na segunda fase desta queima as condições de segurança sejam bastante mais facilmente asseguradas (apenas uma pequena parte da parcela ficou queimada no fim do dia).
Mais ou menos a meio da queima ainda se tentou a entrada na parcela, criando-se uma nova linha de ignições no interior, numa zona de cabeço e depois na encosta. Este esforço teve alguns resultados, queimando-se uma área maior na zona de cabeço.
A instabilidade do vento, que na maioria do tempo foi quase nulo, mas que pontualmente aparecia por momentos com elevada intensidade, levou a que num ou outro momento o fogo aumentasse de intensidade, elevando-se até à copa das giestas. Num desses casos o fogo chegou a atravessar a faixa para o lado oposto, ardendo uns metros quadrados fora da área prevista, tendo sido rapidamente controlado pelas equipas.



O grupo que acompanhou as equipas ao longo do dia contava com os voluntários de longa duração da Montis: a Adéle, a Chloe e a Lia. Pela primeira vez assistiam a um fogo controlado, e estavam bastante atentas e curiosas acerca da técnica e dos seus resultados.
Ao longo da descida, de alguns dos afloramentos rochosos, foi possível olhar para a propriedade e prever algumas das oportunidades que o fogo nos irá abrir no baldio de Carvalhais, nomeadamente nas zonas mais húmidas, de acumulação, onde a vegetação é já ligeiramente mais diversificada em relação ao mosaico de giestal e matos rasteiros."

Margarida - Equipa Poente
"A ignição a poente na parcela contigua ao 2º fogo controlado começou mais tarde que nos restantes limites. O limite norte da faixa de contenção a poente tem inicio numa área com uma grande extensão de vegetação rasteira onde foi necessário entrar dentro do giestal tanto quanto se pudesse para que conseguisse arder alguma área. 



O meio desta faixa além de bastante húmida (devido as linhas de água e escorrência) tem, neste momento, muitos fetos que não demonstraram grande capacidade de propagação do fogo, ardiam apenas os fetos e o fogo não passava para as giestas. Já quase no final da faixa de contenção no limite sul e aproveitando algum vento favorável que se levantou conseguiu-se queimar uma boa parte do giestal e criar uma faixa considerável que irá ajudar a reduzir os riscos do próximo fogo controlado."

Rita - Equipa Norte
"A equipa responsável pelo limite Norte tinha como objectivo inicial assegurar a segurança desta estrema. No entanto, e apesar do fácil acesso a partir do estradão, o que parecia simples e rápido acabou por demorar mais do que o esperado devido aos pequenos afloramentos rochosos e às silvas com que nos deparámos.



Terminada esta parte, juntámos-nos à equipa Poente no limite Sul. No entanto chegados a este limite a humidade já se fazia sentir e apesar das várias tentativas não havia entrada de fogo na parcela pelo que apenas foi possível terminar o contorno da área a queimar.
Ao longo do limite Norte era possível ter uma percepção dos avanços das outras equipas, perceber as dificuldades da equipa a Poente e acompanhar a queima do morro junto à estrema Leste. No limite Sul, foi bem perceptível a dificuldade associada a esta intervenção quer em termos de terreno quer em termos de altura do giestal bem como a dificuldade de entrada de fogo associada. "

Carolina - Visão de comparação
"Este 3º fogo controlado (F.C.) foi bastante diferente do 2º fogo controlado, realizado a 23 de Fevereiro de 2018, no qual estive também presente.
Em Fevereiro foi difícil reduzir a intensidade do fogo, chegando mesmo a queimar mais do que a parcela prevista. No entanto, enquanto neste os ventos de leste estavam presentes e, com o apoio destes (utilizando o fogo a favor do vento) conseguimos fazer arder as altas e densas giestas, após, claro, se ter queimado os limites da parcela, como uma medida de precaução (obrigatória) complementar às faixas de contenção executadas anteriormente (também obrigatórias); no último fogo controlado, como se sabe, tal não aconteceu. As giestas, mesmo sendo altas e densas, tal como na sua parcela vizinha, "não quiseram arder". 



Olhando para as duas situações, observo que há alguns factores que diferem: 
1º o vento - no F.C. de Novembro, apenas se sentia uma brisa, que aumenta os esforços necessários para se conseguir atiçar um fogo mais intenso, necessário no interior da parcela;
2º a humidade - bem mais presente neste último F.C. e para agravar a situação, foi subindo à medida que o sol foi "descendo";
Posto isto, no meu ponto de vista, este dia foi bastante enriquecedor porque tivemos outra experiência com o fogo, que não tínhamos tido até então e, como é normal na Montis, isto deu-nos a oportunidade de pensar sobre estes e outros factores que possam estar em causa e aprender com eles."


Paula
"Devo confessar que era um pouco céptica relativa aos benefícios desta técnica, no entanto, antes de manifestar uma opinião baseada no senso comum, procurei informar-me melhor e descobri coisas muito interessantes, como a origem da técnica, por exemplo.



É uma técnica que exige bastante rigor, quer na sua planificação, quer na sua execução e o ter estado presente na acção de fogo controlado da Montis confirmou os benefícios e todo o cuidado dos responsáveis e operacionais para que este procedimento fosse bem-sucedido, mesmo quando não decorre de acordo com o planeado. Também percebi que o fogo está mesmo “controlado”, arde devagar e tem equipas de prevenção sempre com os olhos postos no fogo.
Tendo em conta a falta de gestão florestal no nosso país e a forte probabilidade de incêndios esta parece-me ser uma boa solução de reduzir as consequências dos incêndios, pois intervimos antecipadamente de uma forma estruturada e controlada."
Apesar da expectativa do grupo, não foi possível intervencionar toda a parcela e a curiosidade  sobre as oportunidades de gestão e do que existe para além do giestal vai-se manter até às condições meteorológicas voltarem a permitir nova intervenção.

Comentários

  1. Além daquilo que foi dito, também é vosso objetivo deixar parcelas intactas por quimar?, E deixar o local ao estilo mosaico, ou seja, a intenção será maior em queimar parcelas de terreno botanicamente menos ricas e diversificadas? Ou é simplesmente o terreno que dita as regras? Mesmo sabendo que a nossa flora independentemente da espécie é mais ou menos resistente ao fogo, ás vezes até dependente, e sabendo que um fogo não escolhe espécies, é vosso objetivo ser criterioso na escolha das parcelas a queimar, para ampliar a diversidade biológica?
    Melhores cumprimentos, Rui

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    Respostas
    1. Caro Rui Faria,
      A diversidade da parcela não é grande, é uma mancha bastante homogénea de giestal denso, com algumas variações aqui e ali.
      Aumentar essa diversidade é mesmo o que pretendemos com as acções de gestão que estamos a executar e o primeiro fogo controlado em cada parcela é essencialmente para nos permitir entrar na parcela para a gerir.
      Os fogos seguintes (prevemos fogos de quatro em quatro anos, mas logo veremos a evolução) já terão mais em atenção a diversidade do terreno, podendo nós excluir algumas das áreas em que entretanto fizemos intervenções.
      Globalmente, nestes cem hectares contamos queimar 50 e nos outros 50 não temos intenção de queimar (embora haja forte probabilidade de que arda num Verão qualquer).
      Nos 50 hectares que contamos intervir com fogo, definimos três parcelas que queimamos em anos diferentes, isto é, queimámos a primeira na época de 2016/ 2017 (Primavera de 2017), a segunda na época de 2017/ 2018 (Primavera de 2018) e estamos agora a queimar na época de 2018/ 2019 (queríamos queimar no Outono de 2018, mas a meteorologia está a trocar-nos as voltas e apenas conseguimos reforçar o controlo do perímetro e queimar 15% da parcela, esperamos queimar o resto logo que seja possível).
      Resumindo, estamos a queimar da forma que achamos que nos garante maior diversidade, ao mesmo tempo que deixamos áreas sem intervenção.
      Dentro de dois ou três anos esperamos que a diversidade nestes cem hectares tenha aumentado substancialmente.

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  2. Grato pela resposta,
    Certo, fico esclarecido, de minha parte resta-me desejar que consigam obter os melhores resultados... e, continuarei a acompanhar o vosso trabalho. Cumprimentos

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  3. Para quem não está familiarizado com esta ferramente de trabalho, importa referir que gerir uma comunidade de giestas com fogo fora da época de estio é um grande desafio (quase tão grande como a gestão de uma área de montanha). Tal como acontece com as comunidades de esteva e carrasco são necessárias condições ambientais muito especificas para se conseguir realizar uma queima que cumpra, em simultâneo, dois objetivos. Garantir que os limites das parcelas, préviamente definidos, não são ultrapassados e que os efeitos desejados (objetivos da prescrição) sejam alcançados. Por esta razão este projeto tem ainda o mérito de proporcionar a técnicos de fogo controlado em formação e operacionais envolvidos a possibilidade de aperfeiçoar a técnica e melhorar o conhecimento das condições ótimas de queima num tipo especifico de vegetação.
    Parabéns pelo trabalho realizado e pela partilha da informação.

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