O contexto do fogo que vamos usar

Muitos dos nossos sócios têm mais dúvidas que certezas em relação ao uso que fazemos do fogo, havendo mesmo alguns que, apoiando globalmente a actividade da Montis, por isso são sócios, acham um erro o uso do fogo como ferramenta de gestão da biodiversidade.
A figura acima, retirada do plano de fogo controlado que a Montis tem em execução, ajuda a perceber as opções que temos feito, que têm em conta o contexto existente.
As parcelas que prevemos queimar de quatro em quatro anos, aproveitando o intervalo entre os fogos controlados para fazer acções de gestão que vão desde a retenção de sedimentos para criar solo e aumentar o capital natural, à sementeira directa, à condução da regeneração natural, à estacaria de salgueiro, ao uso de gaios para promover a dispersão do carvalhal e à plantação de bosquetes de alta densidade de autóctones, entre outras, são as duas (na realidade são três mas a separação entre as duas manchas mais à esquerda só é perceptível aumentando a figura e olhando com atenção) pequenas manchas cinzentas em cima da mancha verde do centro da figura.
As manchas de cor são áreas ardidas em diferentes anos, com o último ano em que arderam em cima (isto é, na dita mancha verde, que corresponde a áreas ardidas em 2010, há áreas ardidas em anos anteriores).
Uma boa parte das áreas a branco são áreas agrícolas, por isso não arderam, e o grande fogo de 2016 nas serras da Freita e Arada, que parou não muito longe do baldio de Carvalhais gerido pela Montis, tem uma presença dominante (escondendo o mosaico de áreas ardidas em anos anteriores).
O mais relevante para nó é a grande mancha verde que ardeu em 2010, isto é, há oito anos, entrando agora num crescendo de risco de fogo até 2022, altura em que atinge o risco quase máximo e aí permanece até que um fogo volte a consumir os combustíveis que se estão a acumular desde 2010.
Os cerca de cinquenta hectares descontínuos que estamos a queimar controladamente, em anos diferentes para garantir uma maior diversidade de nichos ecológicos, podem ser usados pelo dispositivo de combate num fogo que entretanto se declare, mas o verdadeiro objectivo que temos é que, a haver, como é provável, um novo fogo na área em questão, as manchas de fogo controlado, feitas em diferentes anos e, consequentemente, estando em diferentes estados de evolução, sempre com uma quantidade de combustível que limita os efeitos negativos do fogo de Verão, reajam de forma diferenciada no pós fogo e rapidamente reponham alguma diversidade de nichos ecológicos, funcionando como ilhas de vegetação e solo em boas condições, numa matriz em que o fogo intenso de Verão tenderá a calcinar os tecidos das plantas e a afectar mais profundamente o solo e a recuperação da vegetação.
Nessa altura veremos se terá valido a pena o esforço que está a ser feito para trazer gestão as estas áreas marginais sem gestão, e se conseguimos demonstrar que a biodiversidade é um valor social que pode ser mais usado para termos paisagens mais diversas, resilientes e bonitas.
henrique pereira dos santos

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