Dar destino a terras sem destino

Há precisamente uma semana,  Montis lançou a campanha "Como coisa que nos é cedida", cujo objetivo central é a compra de cerca de 8,5 hectares (cinco em Pampilhosa da Serra, 3,5 em Vouzela).
A fotografia acima é de uma das propriedades em causa e reflecte bem a situação não só da propriedade em causa, mas de grande parte do país.
Não é nada fácil trazer gestão para estas terras, se o fosse, com certeza estariam geridas.
Mas achamos que vale a pena dar passos nesse sentido: começamos por comprar terrenos que ninguém quer e, com os recursos que formos conseguindo mobilizar, começamos a fazer uma gestão de baixa intensidade e caminho bem traçado: o objectivo é ter uma paisagem mais rica do ponto de vista natural, com maior utilidade social e, na medida do possível tendo em conta os dois primeiros objectivos, sustentável economicamente.
Temos bem a noção de que leva tempo, sobretudo com os escassos recursos de que dispomos, mas essa é mais uma razão para nos pormos a caminho mais cedo, e não mais tarde.
O balanço que fazemos desta primeira semana de campanha dá-nos esperança.
Estamos quase nos 25% do valor da campanha, o que é muito bom, mas isso significa que temos ainda que mobilizar 75% do que precisamos.
Sabemos bem qual é a dinâmica normal de uma campanha deste tipo: começa com alguma vivacidade, tem um longo período de estagnação e, se as pessoas quiserem e acreditarem, volta a animar no fim.
Esta é uma campanha de tudo ou nada (se não juntarmos os 29 195 euros que pedimos, todas as doações voltam a ser entregues as doadores) e só no fim se pode ver se teve êxito.
Temos absoluta consciência de que o valor pedido é muito alto para o valor de campanhas de crowdfunding em Portugal, a própria plataforma nos avisou desse aspecto.
Mesmo dentro da Montis não é consensual a opção de avançar, mesmo assim, com esta campanha, que ninguém nega que tenha um grande risco de falhar.
Uma semana depois, mais de 7 mil euros angariados, 57 apoiantes (na verdade, um pouco mais, por exemplo, há donativos que surgem como sendo da Montis, e alguns dos anónimos, mas quase sempre são de pessoas ou empresas que preferem entregar-nos o dinheiro a registar-se na plataforma) leva-nos a pensar que é possível.
O país está cheio de terras sem destino.
Pode-se esperar que o Estado resolva o problema (que é muito complicado), ou pode-se passar à prática ajudando-nos a dar um destino a algumas dessas propriedades.
É verdade que não é assim que o problema fica resolvido, mas há um bocadinho pequeno do problema que pode ser resolvido por nós, e esse bocadinho pequeno depende também de si.
A partir de um euro, a opção é sua.
henrique pereira dos santos

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