Tudo ou nada

O gráfico acima, feito por Pedro Lérias, retrata a situação da campanha da Montis "Como coisa que nos é cedida".
Esta campanha que estamos a fazer, para comprar terrenos em Vouzela e Pampilhosa da Serra para os dedicar à conservação, é a campanha mais difícil que fizemos até agora: já conseguimos mobilizar mais de 17 mil euros, o total de cada uma das maiores campanhas anteriores, e ainda nos faltam quase doze mil euros, isto é, o dobro de uma campanha típica de crowdfunding em Portugal que anda pelos cinco mil euros.
É uma campanha de tudo ou nada: se no dia 21 de Maio, às 18 horas, tivermos 29 194 euros em vez dos 29 195 euros pedidos, tudo volta para trás e os donativos são devolvidos aos doadores.
Por isso estas duas semanas que faltam são tão importantes e vale a pena responder a duas ou três perguntas habituais.
1) Qual é a garantia de que estes terrenos não são vendidos no dia seguinte? Estatutariamente a venda de terrenos, na Montis, é uma decisão que apenas pode ser tomada depois de aprovada por maioria de dois terços da Assembleia Geral e aprovada por uma votação de quatro quintos dos membros da direcção, isto é, só com uma esmagadora concordância dentro da Montis os terrenos podem ser vendidos (por exemplo, se for muito clara a vantagem de vender terrenos num local para comprar outros mais favoráveis e isso for a opinião de quase toda a gente).
2) Por que razão fazemos uma campanha tão grande, e portanto difícil, quando poderíamos fazer duas campanhas mais pequenas? Porque fazendo agora uma campanha, teríamos de esperar pelo menos um ano para uma nova campanha e era altura da Montis retomar a sua vocação original de procurar ter terrenos próprios, alguns em regiões diferentes daquela em que nasceu, para ir lançando raízes mais fundas para uma actuação de conservação de longo prazo, capaz de influenciar outras pessoas e organizações a levarem gestão com objectivos de conservação a mais terreno abandonado;
3) Qual é o interesse em gerir terrenos abandonados em vez de deixar os processos naturais seguir o seu caminho? Nas nossas condições o abandono de gestão, que a Montis pratica conscientemente em alguns locais (por exemplo, no baldo de Carvalhais, que gerimos, cerca de 50% da área não tem intervenções de gestão relevantes, mas dentro de um quadro de gestão dos outros 50%), tem implicações negativas relacionadas com o padrão do fogo, a erosão, a expansão de espécies invasoras, etc.. A nossa opção não tem sido contrariar esses processos naturais, excluindo o fogo, por exemplo, mas sim fazer intervenções de muito baixa intensidade, relativamente baratas (para que mais facilmente possam ser reproduzidas e replicadas) que têm como objectivo aumentar a velocidade de recuperação dos sistemas naturais, facilitando a deposição de solo e nutrientes, conduzindo a regeneração natural, fazendo plantações pontuais, usando fogo controlado e, quando formos capazes, pastoreio, de modo a obter mosaicos com maior presença de matas de carvalhos ou ripícolas mais rapidamente que seriam obtidas através do abandono.
4) Qual é a importância dessas pequenas manchas de gestão num mar de terrenos abandonados que existem no país? Em primeiro lugar um longo caminho começa com um primeiro passo, porque pequeno que seja. Em segundo lugar, o efeito destas pequenas manchas vai muito para além dos limites da propriedade na medida em que toda a envolvente pode beneficiar do banco variado de sementes, do efeito de refúgio para a fauna, etc.. Em terceiro lugar o efeito demonstrativo pode ajudar outros proprietários a replicar modelos de gestão cujos resultados se considerem positivos.
Agora é consigo: juntar-se a este esforço, pequeno para cada um, mas relevante no conjunto, doando ou divulgando a campanha, ou deixar tudo como está.
Se optar por se juntar, a forma mais simples é mesmo ir à plataforma PPL e seguir os passos, muito simples, que permitem fazer a sua doação.
E fale com os seus amigos, nem todos estarão interessados, muitos têm outras prioridades de intervenção social ou pessoais, mas há com certeza um ou dois que simplesmente nunca pensaram na hipótese de virar o jogo em relação ao abandono e à falta de gestão das paisagens e no papel que poderiam ter para que isso seja possível.
henrique pereira dos santos

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