Sara, a primeira Gestora da Paisagem MONTIS

Depois de quase 40 anos a trabalhar todos os dias, o dia todo, a ideia de ficar com o tempo livre para mim foi estranha. Ou melhor, foi dividida entre uma enorme euforia e o receio do tédio, do vazio, da possibilidade de ficar sem estímulo nem objetivos no dia a dia, que isto de ter vocação para Cinderella nunca foi muito a minha história. 

Eu não sabia como iria ser a vida sem a rotina imposta pelo trabalho, e senti o medo, tantas são as histórias menos boas que eu já tinha ouvido. Mas como eu não gosto de ter medo, tive que tomar conta de mim. Lembrei-me de quais as causas que me tocam, de quais as instituições com as quis já tinha alguma ligação e tomei a iniciativa de contactar.

Foi assim que me pus a escrever e enviei um e-mail para a Montis, com uma breve descrição de quem eu era e a informar que contava estar disponível para colaborar, como voluntária, dentro de pouco tempo. Pouco depois, ainda eu estava a trabalhar, recebo um telefonema do João, a pedir mais detalhes sobre a minha disponibilidade e intenções. E foi assim, entre telefonemas, propostas de visita à propriedade da Malveira e a participação no colóquio "Ecossistemas de pequenas linhas de água, como conservar?", que fui conhecendo os elementos da Montis e o trabalho que têm para fazer. Foi assim que me apercebi das tarefas concretas em que eu poderia ajudar.

Sara Teles, na propriedade da Malveira.

Depois foi só uma questão de organização pessoal: escolher um dia da semana que poderia ficar reservado para esta atividade e fazer a proposta. A proposta seguiu cheia de ‘ mediante formação adequada para’ e outras coisas que tais, que a minha vida profissional tinha sido toda passada num banco, e eu moro na cidade, numa casa sem quintal. Então, a ligação à terra está nas memórias das férias de infância, passadas em Alvarenga. Está na participação na vindima, que a família ainda faz todos os anos. Está na ajuda pontual a tratar do jardim da casa ou até na ida à horta ver o que há e decidir a refeição seguinte, nos momentos em que estamos na aldeia.


Isto é: Eu não sei nada. Nem de plantas infestastes nem dos métodos para as eliminar. Eu não sei nada sobre regeneração natural nem dos métodos para a favorecer. Mas eu estava disposta a aprender e a Montis teve a disponibilidade para me enquadrar.



A efetuar ações de controlo de invasoras.

E assim, na semana passada fiz a minha 1ª ‘ação em autonomia’: lá fui eu, de manhã cedo, para a Malveira. O dia estava particularmente bonito. Não havia ninguém a passear no terreno ( não havia outros carros estacionados) e eu fiquei ali a descascar acácias a manhã toda.

Devia ser perto das 13h quando dei a tarefa por terminada e fui passear pelo terreno. A ideia era desfrutar um pouco daquele lugar. Mas depressa o olhar para numa pequena acácia de um palmo, a surgir entre os carvalhos e o impulso foi arrancá-la antes que crescesse mais. E depois dessa acácia vê-se outra e mais uma ou duas ou um cento delas! Porque as acácias são aos centos. E vão-se arrancando porque é possível, enquanto é possível. Porque se está lá e elas ainda são pequenas. E é assim que se toma conta da da Natureza. Ou, pelo menos, assim também se pode ajudar a tomar conta da natureza. 
Quando acabei o passeio devia passar das 14:30. Fui ao carro buscar o picnic e levei-o para o moinho onde me sentei a apanhar sol e a olhar para o verde da paisagem e para o azul do céu.

Alguns dos resultados do primeiro dia.

Que bem passada foi aquela manhã grande. Que bom que foi ter dado conta que sorria. Acho que passei toda a manhã com um sorriso nos lábios.

Sara Teles


Gostaram do relato da Sara? Têm alguma ideia ou sugestões em como poderiam colaborar com a MONTIS? Teremos todo em gosto em conversar.

Além disso, dia 10 de Fevereiro há voluntariado na Malveira, onde daremos seguimento ao controlo de espécies invasoras e plantação de espécies nativas. Para se inscrever, contacte-nos por email para o montisacn@gmail.com ou por telefone 232 774 040 / 925 840 014. Podem ver mais informações nesta ligação.

Comentários

  1. Gostava que aparecesse alguém ....que estivesse disponível motivada ...para criar e realizar um projecto idêntico no Polje Mira Minde 2 Fev. DIA MUNDIAL DAS ZONAS HÚMIDAS ... á espera de interessados para melhor conservação e dinamização ... imensas potencialidades que poderiam ser concretizadas ...

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