200 cabras

O passado domingo, 25 de novembro de 2018, foi dia de passeio. Juntamente com os quatro participantes do passeio e os cinco voluntários do projecto Volunteer Escapes (Life17 esc/pt/003) fomos até à aldeia de Chãos em Alcobertas, à Cooperativa Terra Chã para acompanharmos a mobilização do rebanho de cabras da Cooperativa pela Serra dos Candeeiros.

Participantes do passeio "As cabras na Serra dos Candeeiros"

As 200 cabras de raça "Serrana - Ecotipo Ribatejana" da Cooperativa surgiram no âmbito de um projecto de conservação e revitalização dos habitats da gralha-de-bico vermelho em 2009, continuam agora como estratégia de conservação da natureza e preservação da biodiversidade em meio serrano.
Depois de nos reunirmos com o dirigente da Cooperativa, Júlio Ricardo e com o pastor Sr. Raul, seguimos serra acima com o rebanho interpretando a paisagem alterada pela acção das cabras com a qual nos deparávamos.


À semelhança do que encontramos por exemplo no baldio de Carvalhais, um crescimento não controlado de combustíveis finos, como as giestas, nas propriedades da Cooperativa Terra Chã, encontramos este crescimento de combustíveis em vegetação como o carrasco (Quercus coccifera), criando a necessidade de estabelecer um modelo de gestão dos mesmos.

Paisagem dominada por carrasco

A silvo-pastorícia  tem demonstrado um potencial crescente neste aspecto de optimização de múltiplos serviços de ecossistemas com suporte da paisagem e conservação da natureza, já seja pelo controlo de vegetação como o carrasco dando assim possibilidade a outras plantas para se desenvolverem, como o alecrim, ou até pelos próprios dejectos das cabras que atraem seguintes elementos da cadeia alimentar. É importante percebermos que o pastoreio é uma das actividades mais antigas das comunidade e que apesar de nos tempos de outrora o pastoreio não ser utilizado numa perspectiva de controlo de combustíveis por não existir esta noção na sociedade, este controlo era feito. No entanto com o declínio desta prática a gestão dos terrenos apresenta agora novos desafios.


Recuperação da vegetação de alecrim no meio do carrasco

Ao seguirmos as cabras pelos seus trajectos foi nos bastante fácil identificar a acção destas na vegetação, da qual mesmo as plantas mais altas (mais de um metro) não eram impedimento para serem alcançadas e desbastadas. Apesar da vantagem na redução da biomassa causada pelo rebanho é importante também estabelecer uma alternância entre as áreas pastoreadas para reduzir o impacto causado pelas cabras sempre na mesma área. Neste sentido, visitámos de seguida os campos de pastagem fechados da Cooperativa que servem exactamente para deixar regenerar a vegetação espontânea e para providenciar variedade de alimento ao rebanho.

Diferença entre vegetação controlado pelo pastoreio (linha amarela) 
e vegetação não controlada pelo pastoreio (linha preta)

Chegando ao cimo da Serra foi tempo de nos separarmos  do Sr. Raul e do rebanho que ficariam até ao final do dia em pastoreio. Continuámos o percurso com a visita aos algares (gruta vertical), lapas (gruta horizontal) e pias restauradas da Serra, passando pelas redes primárias de prevenção de incêndios das quais a manutenção é assegurada pelas 200 cabras da Cooperativa. Este controlo de combustíveis feito pelo pastoreio poderá demonstrar-se um interessante modelo de gestão para prevenção de incêndios pela capacidade de manter os ecossistemas estáveis e resilientes.

Algar da Serra dos Candeeiros

Terminámos o passeio com uma visita à oficina de tecelagem e apicultura da Cooperativa, uma iniciativa de envolvimento da comunidade da aldeia de Chãos, e com um almoço/merenda.
Agradecemos a participação do Nuno, Pedro, Maria e Maria João neste passeio bem como dos voluntários de longa duração e à parceira Cooperativa Terra Chã.


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