Existe muito a considerar na gestão da paisagem


No dia 17 de novembro de 2018, realizou-se o colóquio da Montis "A Outra gestão da Paisagem" no Tramagal, no qual pela primeira vez contou com a participação dos voluntários de longa duração do projecto LIFE Volunteer Escapes (LIFE17 esc/pt/003). Os voluntários deixaram o seu testemunho sobre os temas discutidos neste colóquio e como estes visam a gestão da paisagem.

"O colóquio organizado pela Montis no passado sábado teve como objectivo criar uma chuva de ideias sobre diferentes experiências de gestão de territórios em Portugal.
A gestão de territórios em Portugal tem vindo a ser uma questão, talvez, um pouco polémica derivada de todos os incêndios que têm ocorrido ao longo dos anos. A gravidade deste tema, a destruição que foi causada pelos fogos, reforça a necessidade de trazer este tema para a mesa e perceber a fundo as causas do mesmo.

Como pudemos compreender pelas palestras do António Louro, Paulo Domingues e Pedro Cortes, houve uma intensificação do êxodo rural nos anos 70. Em paralelo com este fenómeno, houve um crescimento exponencial de florestas de pinheiro e plantações de eucaliptos. Estes desequilíbrios na paisagem tiveram e têm repercussões ecológicas importantes.

António Louro

Adicionado a estas repercussões a ajuda financeira Europeia para a Política de Agricultura Comum (PAC) não alcançou todas as centenas de pequenas parcelas pertencentes a proprietários individuais e como consequência, os territórios deixados ao abandono, monoculturas e com a falta de estratégia da exploração de recursos, tornaram-se uma desordem. 

Pedro Cortes

Os incêndios que têm ocorrido em si não são o problema. O fogo é um processo natural que pode até ser positivo com o seu lugar no ciclo da vida, tal como os eucaliptos não devem ser demonizados já que são uma fonte importante de rendimento em áreas rurais.

Assim, a solução para parar a devastação e o aumento dos incêndios não passa por investir em bombeiros e carros de combate a incêndios, mas sim coordenar e valorizar cada elemento dos problemas como exposto pelo António Louro. Devemos chegar à raiz do problema: a má gestão dos territórios.
                                                                                     
Durante o colóquio várias soluções para a valorização do território foram levantadas, mantendo os objectivos de conservação da biodiversidade, ao mesmo tempo que se apresenta opções de valor de económico para a comunidade. As valorizações dos recursos naturais ocorrem de diversas maneiras, o Duarte Gomes Marques apresentou a importância de um corte apropriado de árvores para uma produção eficiente de árvores. Pedro cortes evocou também que as árvores providenciam um produto bastante versátil e valorizado, a resina, que também ajuda na conservação das florestas.

Duarte Gomes Marques

Contudo, trazer actividade económica para territórios florestais requer a presença humana a qual é essencial para a conservação de processos naturais. Esta ideia, mencionada pelo Sérgio Murra e Paulo Oliveira passou pela valorização dos diversos produtos derivados da paisagem, como os produtos apícolas e a importância da polinização ou os recursos micológicos que têm um grande potencial subdesenvolvido.

 
Sérgio Murra e Paulo de Oliveira, respectivamente

O projecto Cabeço Santo, desenvolvido pelo Paulo Domingues, ilustra este ponto de vista facilmente: é importante restaurar a flora autóctone para a conservação como, os carvalhos, castanheiros e medronheiros. Introduziu ainda uma noção de Ecossistemas culturais (ecossistemas criados pelo Homem que satisfazem as suas necessidades e têm as mesmas características de um ecossistema espontâneo), mostrando em especial detalhe a interdependência dos ecossistemas, resiliência, diversidade, beleza e equilíbrio.

Paulo Domingues

Outra perspectiva deste tema foi apresentada pelo Henk Feith com créditos de biodiversidade. Este projecto que está a ser desenvolvido apresenta uma abordagem cooperativa de áreas de gestão para conservação. A palestra do António Louro insistiu na importância de criar uma rede rural para desenvolver uma estratégia de gestão para território comum. 

Henk Feith

Não existe necessidade de retroceder no tempo e ser novamente uma população rural, mas é nossa responsabilidade aprender com as experiências do passado e desenvolver novas abordagens para a gestão da paisagem.
"
Laura, Adèle, Chloé, Giovanni, Lia

Esta sessão de palestras foi seguida de uma visita à propriedade de Salvadorinho, propriedade da Altri Florestal, e para a qual existe uma hipótese de acordo de gestão, transferindo-a para a Montis.  Esta visita permitiu discutir a gestão da propriedade e identificar os mosaicos de paisagem e biodiversidade existente no local.

Fotografias por: Jorge Neves


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