Between the sounds of the forest

Testemunho sobre o passeio "Pela Ribeira de Ribamá" da Adèle Pottier, voluntária de longa duração do projecto LIFE Volunteer Escapes (LIFE 17 ESC/PT/003). Obrigada a todos pela participação e um especial obrigado ao orientador do passeio Paulo Pereira.

Versão em inglês

"Last Saturday, January 26, a little group of walkers enjoyed the shining sun during a botanic walk organized by Montis, in Fataunços. Guided by Paulo Pereira through fauna and flora, we had a single objective: enjoy the nature to reconnect with it.

The walk starts in the heart of the village, on the tiny stone streets leading to the forest. The dogs are singing around us when Paulo stops us in front of a stone wall full of edible plants: Redondos conchelos (Umbilicus rupestris), recognizable for their pretty round leaves, and Folhas azedas (Rumex acetosa).
Conchelos (Umbilicus rupestris)

With mouths full of leaves, sweet or acid and peppered, we get back on our way. The vegetation gets denser, the world around us becomes greener and shadowed while the sunlight passes through the trees’ naked branches.

Folhas azedas (Rumex acetosa)

Everyone looks up to admire the Quercus pyrenaica surrounding us, typical species of the region. Their leaves are covered by a thin layer of fur (duvet) on the inside, unlike their cousin the Quercus robur.
Suddenly, Paulo bends down and catches two species behind a wall. The first one is a branch from the Gilbardeiras (Ruscus aculeatus), covered of red berries and spiky leaves hiding seeds. Paulo tells us that those «leaves» are actually extentions of the branch, which explains why they carry seeds.

Gilbardeiras (Ruscus aculeatus)

He also makes us smell a Loureiro (Laurus nobilis) leaf, a plant well known by cooks for its special and strong flavour.

Gaspard Laplaine (Escapes Volunteer) smelling a Loureiro leaf

Everyone is now walking and speaking with enthusiasm when we start hearing a sound calling us from down the hood "The Ribeira de Ribamá", appears in front of us.
Jumping from poldra to poldra, we cross the river to reach a small path between two walls. In the middle, a stream joins the river. This is where we meet an rã ibérica (Rana iberica), very common in Portugal. Small, brown, she silently disappears in the river while we continue our hike.

Crossing the Ribeira de Ribamá

Further, Paulo notices a wild aipo de água, growing in the water next to another plant called false parsley - its leaves, easily mistaken with true parsley leaves, are toxic!
In the back appears a big oak laying on the ground. His roots, huge, are bigger than a human. What better occasion to speak about the interest of dead wood in forests? By giving food and habitats to insects, birds and murshrooms, they contribute to maintain the natural balance.

Big oak tree that fell

We step away from the forest path and walk on the asphalt road for a few minutes. Our steps make a strange noise, very different from the sweet sound of leaves under our shoes.
There, we discover the Oenanthe crocata, a schrub as pretty as it can be deadly.

The group returns to the forest surrounded by eucalyptus and their overwhelming smell. A few steps further, we find wild boar footprints in the soil, and right after in a small pond we discover a thin black tadpole as long as matches.
The walk continues. In the heart of the forest, Paulo offers to take a break to meditate and feel the energy coming from the forest.  There, all set on a bridge above the river, soothed by the sound of water and the melody of Paulo’s flute, we all rest peacefully for a moment.

Meditating time

Before the end of the walk, another species is waiting to be discovered by Paulo’s eye. Nicknamed  «turkey tail mushroom» because of its looks, this interesting mushroom is used in traditional Chinese medicine to improve the immune system.

Turkey tail mushroom

Our fulfilling 7km walk ends between chestnut trees and Quercus suber.
Before leaving each other, we share a moment all together, eating and exchanging impressions, looking forward to the next botanic walk!"


Versão em português
"No ultimo Sabado, 26 de Janeiro, um pequeno grupo esteve a passear, com um sol fantástico, guiados por Paulo Pereira, num passeio botânico em Fataúnços, para estar em contacto com a natureza.
O passeio começou no meio da aldeia, nas ruas empredadas e estreitas que vão dar aos campos. Os cães iam dando sinal à nossa volta quando o Paulo resolveu parar em frente de uma pedra coberta de plantas comestíveis: redondos, conchelos (Umbilicus rupestris), facilmente reconhecíveis pelas características folhas redonas e azedas (Rumex acetosa).

Com a boca cheia de folhas, doces, ácidas e apimentadas, voltamos ao caminho. A vegetação ia-se tornando mais densa, e o caminho mais verde e sombreado, embora o sol passasse pelos troncos nus das árvores.
Toda a gente olhava para cima para admirar os Quercus pyrenaica à volta, uma espécie típica da região. As folhas estão cobertas por uma fina camada de pêlos na parte interior, o que não acontece com o primo Quercus robur.

Subitamente, o Paulo baixa-se e apanha duas espécies atrás de um muro. Primeiro um ramo de gilbardeira (Ruscus aculeatus), coberto de bagas encarnadas e folhas com picos, escondendo as sementes. O Paulo explica que na realidade não são folhas, mas extensões do ramo, o que explica por que razão suportam as sementes.
E também nos fez cheirar uma folha de loureiro (Laurus nobilis), uma planta bem conhecida pelos cozinheiros por causa do sabor forte e característico.

Quando toda a gente ia andando e conversando entusiamada, começámos a ouvir um som contínuo e a Ribeira de Ribamá, apareceu à nossa frente.
Atravessámos a ribeira satando de poldra em poldra, para chegar a um pequeno caminho entre dois muros. No meio, um riacho desagua na ribeira. Foi aqui que encontrámos uma rã ibérica (Rana iberica), muito comum em Portugal. Pequena, castanha, desapareceu silenciosamente na ribeira enquanto passávamos.

Mais à frente o Paulo fez-nos reparar num aipo de água, a crescer dentro de água, próximo de outra planta chamada falsa salsa – as folhas confundem-se facilmente com as da salsa e são tóxicas.
Atrás estava um grande carvalho caído. As raízes, enormes, eram mais altas que uma pessoa. Uma altura excelente para falar do interesse da madeira morta nas matas. Alimentando e abrigo a insectos, aves e cogumelos, é um grande contributo para manter o equilíbrio natural.

Saímos da mata e seguimos pelo asfalto durante alguns minutos. O barulho dos passos era esquisito, bastante diferente do barulho suave das folhas a ser pisadas.
Aí encontrámos um Oenanthe crocata um arbusto lindíssimo.
Voltamos a entrar na área florestada, rodeados por eucaliptos e pelo seu cheiro opressivo. Uns passos à frente encontrámos umas pegadas de javali e logo à frente uma poça de água com um girino fino e do tamanho de um fósforo.

O passeio continuou. No coração da área florestada, o Paulo sugeriu que parássemos para meditar e sentir a energia que se libertava da mata. Ali, sentados numa ponte sobre a ribeira, relaxados pelo som da ribeira e da flauta do Paulo, descansámos algum tempo.
Antes do fim do passeio, o olho do Paulo não deixou escapar outra espécie. Alcunhada como “cogumelo de cauda de pavão” por causa do seu aspecto, este interessante cogumelo é usado na medicina tradicional chinesa para reforçar o sistema imunitário.

Acabámos o passeio de 7 km entre castanheiros e sobreiros (Quercus suber).
Antes de nos separarmos, demos conta de uma merenda, conversando enquanto comíamos, já à espera do próximo passeio botânico."


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