A Montis tem um processo de decisão relativamente lento.
Desde o princípio identificámos um problema potencial que queríamos evitar: ou as decisões eram participadas, levando muito tempo e consumindo muitos recursos, ou as decisões eram tomadas por um restrito grupo de pessoas (órgãos sociais ou equipa técnica), em função de opiniões muitas vezes mal fundamentadas.
O que procuramos consolidar é um caminho intermédio, em que as decisões são tomadas por um grupo relativamente pequeno de pessoas, legitimadas para o efeito, mas se evitam posições de política geral e se procura que as decisões de gestão dos terrenos vão sendo tomadas ao longo do tempo, com o contributo da equipa técnica, dos voluntários, dos sócios, dos curiosos, em que a troca de informação e a transparência são centrais.
O que se segue é o texto de um mail (com um ou outro comentário de contexto) desse processo, publicado com autorização do autor, evidentemente, como ilustração da forma como procuramos tomar decisões colectivas de gestão.
Agora a informação circulará pelos órgãos sociais, será a base de discussões e conversas com voluntários, com visitantes, com entidades que nos apoiam, ou que se relacionam com a gestão do baldio de Carvalhais e, aos poucos vamos consolidando o caminho a seguir, fazendo, avaliando, discutindo e decidindo o passo seguinte.
É um processo lento, pouco espetacular, pouco mediático, mas parece-nos que faz sentido não fazer depender as decisões de pessoas providenciais e faz sentido continuar neste modelo de gestão adaptativa.
Ideias, sugestões, críticas são sempre bem vindas, tanto como as quotas, os donativos, as horas de trabalho voluntário, o crowdfunding e todos esses instrumentos de envolvimento de pessoas comuns na gestão do património natural e da paisagem.
henrique pereira dos santos
Desde o princípio identificámos um problema potencial que queríamos evitar: ou as decisões eram participadas, levando muito tempo e consumindo muitos recursos, ou as decisões eram tomadas por um restrito grupo de pessoas (órgãos sociais ou equipa técnica), em função de opiniões muitas vezes mal fundamentadas.
O que procuramos consolidar é um caminho intermédio, em que as decisões são tomadas por um grupo relativamente pequeno de pessoas, legitimadas para o efeito, mas se evitam posições de política geral e se procura que as decisões de gestão dos terrenos vão sendo tomadas ao longo do tempo, com o contributo da equipa técnica, dos voluntários, dos sócios, dos curiosos, em que a troca de informação e a transparência são centrais.
O que se segue é o texto de um mail (com um ou outro comentário de contexto) desse processo, publicado com autorização do autor, evidentemente, como ilustração da forma como procuramos tomar decisões colectivas de gestão.
Olá.
Estive
na quinta-feira em Carvalhais e corri as 3 áreas de fogo controlado com a Maria João
e o Manuel (dois estagiários universitários que nos pediram para fazer as suas teses com a Montis e que procuramos apoiar no seu trabalho académico, ao mesmo tempo que nos ajudam a pensar para lá do dia a dia).
Abaixo
apresento uma reflexão que fui partilhando com eles e que me parece relevante
para a gestão que faremos este ano e nos próximos.
Consegui
ir pela primeira vez ao miolo da área do 3º fogo controlado e ter uma
perspectiva mais abrangente do que realmente ardeu e como.
Há um
conjunto de oportunidades de gestão muito boas neste momento neste miolo.
Parece-me que dentro do que faremos em Carvalhais este ano, deveríamos
canalizar uma boa parte dos esforços de gestão para esta área. As oportunidades
são as seguintes:
- Plantações – há muito espaço, solo e água (para já), e é uma área bem definida, o que facilita a futura necessidade de proteger plantações se necessário
- Há várias linhas de escorrência que são muito boas para investir na acumulação de sedimentos
- É possível chegar até à linha de água principal, o que nos permite colocar lá alguns gabiões (se bem que na prática como a linha de água é um sulco profundo, praticamente não vai ter efeitos na acumulação de solo; servirá mais aqui para criar alguma redução da velocidade da água, provavelmente em algumas “poças” temporárias ,quando o caudal reduzir ocorrerá algum aumento de infiltração acho eu. Estas poças também serão interessantes do ponto de vista da biodiversidade). Com este acesso à linha de água poderemos também fazer estacarias e recuperar o salgueiral
- Há um local que me parece muito interessante para fazer uma área maior de retenção de água (é uma confluência de linhas de escorrência que espraia e facilmente se consegue construir uma espécie de “barragem” com 5 a 6 metros, que poderá ajudar a criar um local de acumulação de águas. Se calhar isto origina uma espécie de charco temporário, que acredito que contribuirá para aumentar a biodiversidade do local, e irá provavelmente atrair outros animais a aumentar a disponibilidade hídrica nesta zona superior, no solo). A minha sugestão era falar com o Aldo e lançar a ideia de este ano se fazer a oficina de engenharia natural nesta área, com este desafio adicional de se construir algo que possa fazer esta retenção (com madeira do local, pedras, etc...). Acho que conseguíamos uma oficina com mais diversidade na parte prática, mantendo mais ou menos as mesmas técnicas de base.
Embora
seja fora da nossa gestão, a proliferação de acácias a poente da área gerida
por nós está a ganhar uma dimensão considerável. Acho que temos que estar
atentos a este problema, ... acho que vale
a pena incluir um capítulo no Plano de Acção sobre este assunto, mais para
assinalar o problema (falei com o Manuel sobre isso).
Concretamente, o que acho
que podemos fazer neste momento, é tirar partido do caminho que foi aberto para
instalar o tabuleiro no meio do eucaliptal, continuar a abrir até à acácia de
grande porte que está lá muito perto, e fazer o descasque. Deve ser feita
também uma avaliação do que lá está no solo em termos de regeneração de
acacial.
Em
relação ao 2º fogo, estivemos apenas na parte superior, na zona das árvores da
EDP Renováveis(trata-se de uma área de plantação e gestão que foi protocolada com e financiada pela EDP Renováveis). Não há muito a acrescentar. Acho que após a primavera, quando estes
carvalhos ganharem folha, poderá valer a pena vir cá dizer-lhes olá e desafogar
um pouco a vegetação em volta deles (nomeadamente silvas que depois de
crescerem se tornam muito difíceis de gerir), para que seja mais fácil a gestão
a médio/ longo prazo.
Não
sei se deveremos continuar a amarrar as novas rebentações de carvalho ao
carvalho que ardeu no fogo controlado. Verifiquei que num dos casos em que isso
foi feito, o carvalho ardido quebrou e arrastou o ramos que estava a ser
conduzido, partindo-o pela base (foto carvalho partido). Ou seja perdeu-se mais
com o amarrar do que se ganharia com a verticalização do carvalho (se não
tivesse sido verticalizado por amarração ele crescia na mesma, mais lentamente,
mas não se tinha perdido)
Passamos
ainda na zona do primeiro fogo e há alguns ramos de carvalhos que estavam a
recuperar do fogo controlado que foram comidos por algum animal (suponho eu).
Como era apenas na zona junto ao caminho a justificação que nos parece mais
plausível é que tenham sido as cabras do pastor que volta e meia passa por ali,
que durante o percurso tenham dado lá umas dentadas.
Jóni
O que se transcreve acima é apenas o relatório de uma visita de uma pessoa (acompanhada por duas outras), é informação sobre a situação existente, a sua possível evolução e o tipo de intervenções que podem existir.Agora a informação circulará pelos órgãos sociais, será a base de discussões e conversas com voluntários, com visitantes, com entidades que nos apoiam, ou que se relacionam com a gestão do baldio de Carvalhais e, aos poucos vamos consolidando o caminho a seguir, fazendo, avaliando, discutindo e decidindo o passo seguinte.
É um processo lento, pouco espetacular, pouco mediático, mas parece-nos que faz sentido não fazer depender as decisões de pessoas providenciais e faz sentido continuar neste modelo de gestão adaptativa.
Ideias, sugestões, críticas são sempre bem vindas, tanto como as quotas, os donativos, as horas de trabalho voluntário, o crowdfunding e todos esses instrumentos de envolvimento de pessoas comuns na gestão do património natural e da paisagem.
henrique pereira dos santos
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