Borboletas, morcegos e anfíbios (parte 1)

Sendo um dos objectivos principais da associação o aumento do valor de biodiversidade, temos desenvolvido várias actividades para ir melhorando os registos de biodiversidade quer nas propriedades da MONTIS ou sob nossa gestão, quer noutros locais da envolvente que permitam compreender melhor o ecossistema nas imediações das propriedades. 

Assim no final de Julho e no início de Agosto organizámos dois passeios da biodiversidade, o primeiro, na Serra do Alvão sobre borboletas em colaboração com o projecto LEPI, e o segundo perto da Barragem de Santa Luzia em Pampilhosa da Serra sobre morcegos e anfíbios em colaboração com o Laboratório de Ecologia Aplicada da UTAD

Na Serra do Alvão, fomos até Lamas de Olo, uma aldeia no topo da serra, característica pela coexistência do trabalho humano com a floresta. O objectivo do passeio era conseguirmos perceber os benefícios ou não-benefícios que a intervenção humana tem nos ecossistemas desta região para diversas espécies de borboletas. 


 Equipa da actividade (fotografia de Luís Corte-Real)

Iniciámos o percurso na aldeia, passando primeiro por uma zona de campos agrícolas, onde a vegetação da serra, mais rasteira era preferida de borboletas mais pequenas, e também por borboletas como a borboleta-zebra característica de zonas de cultivo. Conversámos sobre a diferença em espécies que fomos vendo, e também entre as borboletas noturnas e diurnas. 

Borboleta zebra (Iphiclides feisthamelii)

À medida que fomos avançando, a paisagem foi mudando para um carvalhal de Quercus pyrenaica (carvalho-negral), intercalado com galerias ripícolas. Neste ecossistema, as borboletas observadas já eram maiores. Junto das zonas mais húmidas identificámos ainda outro tipo de espécies, como libélulas, ou bichos-pau.


Família: Nymphalidae

Bicho-pau (Phasmatodea sp.)

Terminámos o percurso de volta à aldeia, mas ainda com tempo para visitar uma zona relativamente perto, onde se conseguem visualizar borboletas-azuis.

Ao chegarmos, a equipa do LEPI, fez a introdução do ciclo de vida da borboleta-azul (Phengaris alcon) característica por se encontrar em lameiros geridos. Estas borboletas, começam por pôr os seus ovos numa planta específica chamada genciana-das-turfeiras (Gentiana pneumonanthe). Passando os ovos a estado larvar, as larvas alimentam-se no interior destes plantas, do seu néctar, engordando até que têm peso suficiente para se deixarem cair no solo debaixo da genciana. Neste momento as larvas, emitem uma feromona semelhante à feromona libertada por larvas de formigas do género Mirmica encontradas também neste habitat. As formigas ao detetarem estas larvas que parecem as suas, carregam-nas para dentro dos seus túneis e alimentam e cuidam delas durante o tempo de crescimento da larva.

Assim que as larvas da borboleta-azul estão prontas a passar à fase seguinte do ciclo e transformarem-se em novas borboletas, evacuam rapidamente a toca das formigas antes que estas percebam o "erro" que cometeram e emergem para o exterior. 


Borboleta-azul-das-turfeiras (Phengaris alcon, anteriormente, Maculinea alcon)

Para além deste ciclo de vida altamente específico e dependente de outras espécies (da genciana e das formigas), também as espécies das quais dependem são bastante específicas, sendo que as gencianas-das-turfeiras dependem da pastorícia (embora controlada) para controlar a restante vegetação nas turfeiras que impede o seu crescimento. 

Foi esta importância de ciclo de dependência entre espécies, humana com biodiversidade, que foi importante realçar. Os lameiros representam um importante habitat para as actividades humanas, nomeadamente para a criação de gado, e por sua vez, esta pastorícia e a gestão de território pelo homem, representam uma importante ajuda para certas espécies que dependem desta gestão da vegetação. 

Resta-nos agradecer a todos os participantes desta actividade e também à equipa do LEPI por todo o conhecimento partilhado.

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