Há uma pequena diferença

A fotografia abaixo mostra a vista sobre o vale do Souto do Brejo, onde a MONTIS gere duas propriedades, Soalheira e Penedo Alto. Caminhando em direcção à Soalheira é visível o crescimento dos matos que ocupam praticamente todo o vale, dominados por estevas, medronheiros, giestas e, em menor quantidade, adernos. 

Vista geral sobre o vale do Souto do Brejo

Na Soalheira, vê-se uma pequena diferença: do estradão vêem-se algumas estevas cortadas e pinheiros desramados, quebrando ligeiramente a massa contínua de matos. A diferença não é grande, mas existe. É o resultado do trabalho que os voluntários da MONTIS têm feito nesta propriedade.

Limite da área gerida pela MONTIS, de meio da fotografia para a esquerda. No limite um marco pintado pelos voluntários da MONTIS

Em 2020 fizemos aqui uma parte do nosso Campo de Trabalho Internacional, altura em que estivemos a abrir alguns acessos ao interior da parcela, a marcar os limites da área da MONTIS, e a desramar os poucos pinheiros que existem no topo da parcela. Estes trabalhos permitiram-nos conhecer melhor o que temos para gerir.

Mais recentemente, começámos a trabalhar a qualidade do solo na zona superior da encosta. Com as estevas cortadas para a abertura dos acessos fizemos algumas barreiras horizontais, que na altura das chuvas ajudarão a reter os sedimentos que a água trouxer. 

Mais recentemente experimentamos também fazer umas poucas plantações e estacarias nesta propriedade, para percebermos como é que reagiriam. As expectativas de sucesso são mesmo muito, muito baixas, tendo por base a experiência que temos do baldio de Carvalhais. Tal como o baldio de Carvalhais, a Soalheira é uma encosta voltada a Sul, inclinada e aparentemente com pouca qualidade de solo. Talvez este ano os resultados melhorem um pouco, pela quantidade de chuva que tem caído. Dito isto, e sabendo bem que o Verão está ainda a começar, mostramos nas fotografias abaixo o estado actual das plantações e estacarias que fizemos desde Janeiro de 2021. O que se verifica é que morreram practicamente todas as plantações feitas na parte mais alta da propriedade, e as plantações e estacarias sobreviventes aumentam quanto mais se desce em direcção ao fundo do vale.

Barreiras para acumulação de sedimentos, com um sobreiro plantado seco, no centro da fotografia

Sobreiro plantado, na zona inferior da encosta

No fundo do vale há uma linha de escorrência de água, que nesta altura do ano já não tem água, mas que mantém bastante humidade no solo. A vegetação dominante nesta linha de escorrência de água é quase igual à vegetação das encostas, com domínio dos medronheiros e giestas. Apenas há um núcleo localizado de vegetação ripícola (vegetação que potencialmente ocupa os locais com mais água), neste caso salgueiros com alguma dimensão. A linha de escorrência tem pequenos socalcos, que ajudam à retenção do solo, e onde parece haver mais matéria orgânica. Tirando partido da sombra dos matos existentes, experimentamos fazer algumas estacarias de azereiro, uma espécie da laurissilva que ocorre no fundo de vários vales da região, com o objectivo de enriquecer a diversidade da vegetação. Na próxima Primavera poderemos avaliar os resultados destas acções, e perceberemos se elas são ou não interessantes para replicar no futuro.

Aspecto geral da vegetação existente na linha de escorrência, com domínio de medronheiro, giesta e algum aderno

Zona inferior da linha de água, com algum salgueiral

Azereiro vivo plantado na linha de escorrência, à sombra dos matos existentes

Estacaria de azereiro feita na linha de escorrência, sob a sombra dos arbustos

A MONTIS vai continuar a trabalhar esta linha de escorrência potenciando a instalação do salgueiral com estacarias de salgueiro recolhidas dos salgueiros existentes. No Outono vamos provavelmente planear voltar a esta área para um voluntariado dedicado a recolha e sementeira de bolotas directamente no solo, um pouco por toda a propriedade, para reforçar o banco de sementes. Vamos também estar atentos às mimosas que existem fora da nossa área de gestão, que apesar de serem ainda poucas e localizadas representam um potencial problema significativo para a biodiversidade do vale.

É este o trabalho que a MONTIS faz nas áreas que gere: perceber o que a natureza fará sozinha, perceber que mais cedo ou mais tarde o fogo vai chegar, e com base nisto investir os recursos que pode (e que são poucos) nos elementos que permitem uma recuperação mais rápida após o fogo, como por exemplo a qualidade do solo, o banco de sementes e a disponibilidade de água.

Na Pampilhosa da Serra a E-Redes é parceira da MONTIS apoiando financeiramente a gestão das áreas de Penedo Alto e Covões, que confinam com as suas faixas de gestão de combustível.

Jóni Vieira



Comentários