Colóquio "Tenho uma área invadida. E agora?"

Inserido na Semana sobre Espécies Invasoras 2023, a MONTIS organizou na passada sexta-feira, dia 19 de Maio, o seu colóquio de maio "Tenho uma área invadida. E agora?".

O evento contou com a participação de 22 pessoas, num ambiente de partilha de conhecimento e opiniões bastante dinâmico.

Iniciámos com uma apresentação da Sílvia Martins, do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e membro da equipa da plataforma de ciência-cidadã Invasoras.pt. A Sílvia partilhou com os participantes um "Monstruário de Plantas Invasoras", tendo como mote a frase "conhecer o problema das invasões biológicas é estar um passo à frente no planeamento e na gestão dos territórios". Tivemos oportunidade de aprender a identificar diversas plantas invasoras terrestres e aquáticas, abordando os impactos ecológicos de cada uma delas e os seus métodos de controlo.

Seguiu-se a apresentação da MONTIS feita em duas partes. Primeiro pelo técnico João Freitas, que partilhou a experiência adquirida no restauro ecológico dos terrenos da MONTIS afetados por diversas espécies de flora invasora, dando ênfase aos métodos de controlo utilizados e aos resultados obtidos: "informar sobre o impacto ecológico das plantas invasoras e dar a conhecer os diferentes métodos de controlo é essencial numa estratégia de gestão participativa da paisagem". A segunda apresentação da MONTIS foi realizada pelo ex-técnico Guilherme Varejão, que partilhou os resultados obtidos durante o seu estágio profissional na MONTIS com o título "Acacia dealbata: o caso de estudo da gestão de áreas invadidas, por uma associação sem fins lucrativos": "É necessário informar sobre a temática das espécies invasoras e deixar as pessoas compreender as melhores formas de gestão adaptadas às condições da invasão".


Após um breve intervalo para repor as energias, com café e doces regionais de Vouzela, demos início ao debate, que contou com intervenções de especialistas de várias entidades:

  • Professor Doutor Jorge Gominho, do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia:
    • "Explorar a biomassa de Acacias: Uma forma de reduzir o risco de incêndios."
  • Economista Pedro Braz Teixeira:
    • "As políticas de combate às invasoras têm que ser cuidadosamente desenhadas, porque podem, com elevada probabilidade, tornar-se contraproducentes".
  • Arquiteto Paisagista e Diretor na empresa Cascais Ambiente, João Melo:
    • "A invasão biológica é um dos maior desafios para a conservação da natureza e biodiversidade, consumindo consideráveis recursos humanos e financeiros, que poderiam ser alocadas a outras ações de restauro ecológico. Importa pois consertar estratégias, reunir esforços, partilhar experiências e metodologias de modo a conseguirmos amplificar o conhecimento adquirido. As alterações climáticas, a problemática fogos rurais, o desordenamento florestal, a utilização de plantas invasoras exóticas como plantas ornamentais e o desconhecimento e falta de sensibilidade do público em geral, são questões prementes que importa ver discutidas, pelo que é de louvar a iniciativa"
  • Bióloga e Técnica Superior do ICNF, Isa Teixeira:
    • "Em áreas invadidas, onde a erradicação já não é possível, as intervenções devem focar-se em áreas previamente identificadas como prioritárias. Acima de tudo, a gestão de invasoras e a recuperação ecológica devem ser encaradas como um procedimento a longo prazo."

Com uma intervenção inicial de cada especialista sobre a temática da gestão de áreas invadidas, foi lançado o debate a todos os presentes no Colóquio, numa sessão bastante participada de troca de conhecimentos.

O debate começou com informação sobre o projeto Acacia4fire que visa aproveitar a biomassa de flora invasora, que está a ser desperdiçada, compensando os proprietários pela sua erradicação, e reduzindo o risco de incêndios. Foram levantadas, um pouco como contraponto, as potenciais consequências, não intencionais, de se estar a valorizar uma matéria prima - as acácias - que não queremos valorizar, sendo referida, como exemplo, a forma como estão a operar algumas centrais de biomassa. Foi destacada a necessidade de racionalizar os grandes gastos de recursos financeiros e de tempo no combate às invasoras, por exemplo identificando os factores críticos de cada espécie e actuando sobre esses factores críticos, sendo também destacado que o controlo de seguimento pode ser bastante mais caro que o controlo inicial. Foram abordadas as consequências ecológicas da remoção de biomassa dos terrenos invadidos que muitas vezes são terrenos com solos pobres. Foi também abordado o perigo económico e ecológico que pode surgir com uma economia que favoreça a produção de biomassa invasora, tornando-se evidente para todos os presentes que o futuro deverá passar por subsidiar proprietários e gestores de terrenos pelos serviços de ecossistemas prestados, ficando no entanto claro que ainda há um longo caminho a percorrer nesse sentido em Portugal.

No final do debate ficou a opinião geral de que é necessário informar e educar para a temática das invasoras para uma melhor gestão do território, em que a partilha de conhecimento entre entidades governamentais, académicas, e gestoras de terreno é fundamental para uma estratégia nacional de gestão de invasoras. E que essa estratégia deverá partir de legislação e planos de ação concretos por parte do ICNF, cuja implementação deve ser acompanhada e monitorizada numa perspectiva de proximidade com os proprietários que muitas vezes sentem dificuldade em receber informação e acompanhamento.

O debate foi prolongado por uma conversa menos formal durante o almoço, onde os participantes tiveram oportunidade de experimentar a gastronomia local de Vouzela

Depois do almoço, os mais "resistentes" dedicaram-se à gestão prática de plantas invasoras na Quinta das Lamas, com o arranque de várias tintureiras (Phytolacca americana) e com o descasque de sete austrálias (Acacia melanoxylon) de grandes porte.

Aproveitamos para deixar um agradecimento a todos os oradores pelas suas contribuições para um debate tão produtivo. E sobretudo deixamos um agradecimento especial aos proprietários da Quinta das Lamas, que após alguns imprevistos com o vento nos abriram as portas de sua casa para realizarmos o colóquio, prestando uma grande ajuda com a logística do evento.

Comentários