Colóquio MONTIS: 10 anos de MONTIS no Baldio de Carvalhais

 

Na passada sexta-feira, dia 07 de novembro, decorreu o colóquio “10 anos de MONTIS no Baldio de Carvalhais”, no auditório da União das freguesias de Carvalhais e Candal.

O objetivo deste colóquio foi definir, com o contributo dos participantes, um modelo de gestão em que a unidade de planeamento seja a paisagem, as subunidades sejam as várias tipologias de mosaico e as intervenções sejam pensadas num plano plurianual, atualizável. E procurar chegar a uma Visão para 2035.

O programa teria início com a visita à propriedade, no entanto, devido à chuva intensa, decidimos adiar um pouco a visita e começámos com a apresentação sobre a gestão desenvolvida pela MONTIS, ao longo da última década, no baldio. Assim, a manhã teve início com as palavras de boas-vindas da presidente da MONTIS, Teresa Mª Gamito, e do presidente da União de Freguesias de Carvalhais e Candal, o professor Adriano Azevedo, que agradeceu à MONTIS o trabalho que tem realizado ao longo dos últimos 10 anos na gestão e conservação do Baldio de Carvalhais. 

O professor Adriano Azevedo mencionou também a preocupação de mitigar o impacto dos incêndios rurais, incentivando a utilização de fogo controlado e o controlo de combustíveis. Referiu ainda que o baldio é um local de experiências, cujas ações podem ser replicadas noutros locais.


O vice-presidente da MONTIS, Luís Lopes, iniciou então a sessão da manhã com a apresentação “Os 10 anos de intervenção da MONTIS no Baldio de Carvalhais”.

Começou por explicar o passado do baldio, assente na sua utilização para pastoreio, o progressivo abandono e o fogo de 2010, e as consequências que daí resultaram. De seguida, partindo do plano inicial de intervenção nas galerias ripícolas, referiu as diferentes estratégias de gestão levadas a cabo pela MONTIS ao longo dos últimos 10 anos, que visavam aumentar as zonas de refúgio e o alimento para a fauna, com destaque para o corço, intervindo nas baixas do terreno, para aumentar a velocidade de recuperação da vegetação, dando lugar a manchas contínuas de arvoredo e matos. E destacou também o desenvolvimento de um plano de fogo controlado com intervalos de quatro anos em três parcelas diferentes e os seus efeitos na modelação da vegetação e da paisagem. Por fim, apresentou cada uma das cinco parcelas de gestão (ou não gestão) do baldio, referindo ainda o interesse em ter uma perspetiva mais abrangente de gestão, além dos 100 hectares de gestão da MONTIS, principalmente incluindo as zonas de cabeceira. Pode ver a apresentação aqui.

No seguimento da apresentação, o representante do ICNF, Elmano Silva, referiu que a melhor altura para realizar fogo controlado no giestal é logo após o verão ou já na primavera, quando as giestas estão em melhores condições para arder. E deu uma dica para facilitar a queima de giestal, através do corte antecipado de algumas giestas, colocando esse material por baixo das giestas maiores para intensificar o fogo.

A presidente da MONTIS convidou todos para a visita ao baldio, lembrando o objetivo final do colóquio – a definição de uma visão para 2035 – destacando que a MONTIS contava com a contribuição dos participantes para chegar a essa visão. 

A manhã terminou com a visita ao Baldio de Carvalhais. Apesar da chuva e do nevoeiro, que não nos deixou ter uma visualização abrangente da área poente do baldio, foi possível visitar diferentes partes do baldio com vista a analisar possíveis ameaças e oportunidades para o futuro, e discutir opções de intervenção tendo em conta a redução do giestal e as possibilidades de gestão das zonas de eucaliptal e de pinhal. Por fim visitou-se a charca de Carvalhais, a qual, apesar de estar fora da área gerida pela associação , tem, além de outras funções, interesse para a conservação, particularmente como ponto de água. 



Por fim, regressámos ao auditório da União de freguesias de Carvalhais e Candal para uma refeição ligeira incluindo produtos locais como já é tradição na MONTIS.

O primeiro orador convidado, o Paulo Pereira da NBI (Nature Business Intelligence), deu início à apresentação “Restauro ecológico na serra da Arada”, falando sobre os ecossistemas e a gestão da paisagem nas serras portuguesas, com foco no Baldio de Carvalhais. Destacou a influência do granito na vegetação do baldio, por contraste com o xisto das áreas vizinhas, o que explica a predominância de giestais, mas também de outros matos endémicos como os tojos e carquejas, e que juntamente com o historial de uso do solo, resulta numa menor presença de floresta. Com o objetivo de criar/recuperar áreas florestais, no século passado houve um grande esforço de instalação de pinhais porém, com os ciclos de fogo foram reduzindo o pinhal e fomentou uma nova instalação do giestal, agora em áreas mais extensas e homogéneas..

Na sua análise, identificou cinco elementos estruturantes do baldio — afloramentos rochosos, linhas de água, matos, pastagens e floresta — e sugeriu o sobreiro (e o medronheiro) como a espécie arbórea mais resiliente e adequada a este território, destacando que os tipos de plantas que surgem em regeneração natural têm um maior potencial para serem plantadas. Como visão de futuro do baldio, atingir valores de 10% de carvalhal, 20% de sobreiral e o restante de matos (em resposta à sua biodiversidade e às condições do local), podendo o pinhal e o eucaliptal ocupar parte do espaço dos matos. Propôs que a gestão se baseasse sobretudo na limpeza do giestal e dos silvados, na condução da regeneração natural das árvores nativas e na valorização das galerias ripícolas, devendo as plantações ser apenas um último recurso. Por fim, recomendou a criação de mosaico, nomeadamente com o apoio de pastoreio.


O segundo orador, o Pedro Gomes da BALADI, apresentou “Oportunidades em espaço de baldio” com uma perspetiva mais focada nas questões sociais e económicas dos baldios em Portugal, destacando os desafios que as comunidades locais enfrentam, marcadas por décadas de êxodo rural e envelhecimento populacional, o que resulta na crescente dificuldade em assegurar a gestão ativa e sustentável dos territórios comunitários. Sublinhou a pressão que muitos baldios sentem, tanto pela falta de pessoas e de oportunidades nos meios rurais, como pela ausência de modelos económicos viáveis que garantam a sua continuidade e relevância.

Apesar deste cenário, partilhou também caminhos de esperança, incluindo o interesse em promover a multifuncionalidade dos baldios como forma de criar valor, combinando usos tradicionais, como o pastoreio e a gestão florestal, com novas oportunidades ligadas às energias renováveis, ao mercado de carbono, ao turismo de natureza e à valorização dos serviços dos ecossistemas. Defendeu ainda que uma gestão integrada e participativa pode reforçar o papel das comunidades locais como guardiãs do território, transformando os baldios em espaços de inovação rural e sustentabilidade.


A última fase do colóquio foi liderada pela Teresa, que desafiou todos os participantes a contribuir, num formato de grupo de trabalho “à volta de uma mesa”, para identificar as principais vulnerabilidades e as principais potencialidades do Baldio de Carvalhais. Todos contribuíram com as suas perspetivas e experiências e ainda se conseguiu chegar, embora não tão longe como se pretendia, devido aos ajustamentos que foi necessário fazer ao programa, a algumas linhas orientadoras da Visão para 2035.

Agradecemos a todos os participantes pelos seus relevantes contributos e à União de Freguesias de Carvalhais e Candal por nos apoiar na organização deste colóquio. Esperamos que brevemente possamos continuar a debater o futuro desta e de outras propriedades geridas pela MONTIS. 

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