"Devagar que tenho pressa"

O título deste post é uma das várias variações (passe o pleonasmo e a aliteração) da ideia de que devagar se vai longe ou, neste caso, se demora menos tempo.
É uma ideia útil para explicar o que estamos a fazer na propriedade que comprámos há algum tempo.
Na altura em que a comprámos era um carvalhal em regeneração, teria ardido há cerca de dez anos, a madeira teria sido cortada para lenha, e o que havia era uma situação comum: matos altos com presença relativamente abundante de pequenos carvalhos de forma arbustiva.
A opção de gestão, na altura, foi pensar no fogo seguinte e de que forma se poderia intervir para lidar o melhor possível com esse fogo para obter, o mais rapidamente possível, um carvalhal adulto e maduro.
As opções foram escolher alguns núcleos de carvalhos mais densos e desenvolvidos e ajudar os carvalhos a ganhar a competição com os matos, puxando os carvalhos para cima e cortando os matos envolventes.
No dia 14 de Outubro de 2017 o ponto em que estávamos era este.
A 15 de Outubro o fogo entrou pelo carvalhal violentamente, com uma intensidade muito elevada, numa altura do ano em que os carvalhos já estavam a perder a folha, isto é, nas condições fenológicas piores para lidarem com o fogo.
O resultado é este, isto é, uma terra com tudo calcinado. 
Se o fogo tivesse entrado no carvalhal com menos intensidade, é bem possível que o nosso trabalho prévio de gestão tivesse feito alguma diferença, mas nas condições extremas em que o fogo ocorreu, terá sido, provavelmente, irrelevante, nunca o saberemos (é possível, embora pouco provável, que os tecidos internos dos carvalhos e a temperatura no solo tenham sido marginalmente afectadas com os trabalhos de controlo de combustível que fizemos antes).
Fomos avaliando a situação, que em Abril de 2018 era esta
E em Junho já era possível saber o que nos esperava
Foi nessa altura que decidimos descruzar os braços e começar a fazer a gestão da regeneração natural, com as condicionantes que resultam dos recursos que temos, isto é, fomos fazendo algumas acções pontuais, mas ainda estamos longe de ter feito uma intervenção com a dimensão que esperamos conseguir, passo a passo, nos próximos dois a três anos, que nos parecem fundamentais para garantir que no próximo fogo os carvalhos já estão claramente a ganhar a competição com os matos.
O passeio deste Sábado, 22 de Setembro de 2018, já permitiu fotografias como esta, com a rebentação dos carvalhos muito bem estabelecida e com muita vitalidade, apesar de estarmos a entrar no Outono.
Daqui a um ano esperamos estar a demonstrar que, lentamente, com acções de gestão de baixa intensidade, mas muito focadas no essencial, é possível ganhar muito tempo no estabelecimento de carvalhais maduros e complexos.
Daqui a cinco anos estaremos com certeza em condições de avaliar os efeitos esperados do próximo fogo sobretudo se, com um bocado de sorte, o próximo fogo entrar no carvalhal com uma intensidade compatível com a manutenção das copas.
E será depois desse fogo, daqui a 12 ou quinze anos, mais ou menos, que poderemos finalmente ter a certeza do que valeu a pena e do que é melhor não repetir.
A natureza não tem pressa, nós é que temos alguma, e por isso vamos persistir, devagar, devagarinho, nesta ideia de compreender os processos naturais que estão a ocorrer e a que queremos dar uma mãozinha para chegarmos mais depressa aos carvalhais maduros para que trabalhamos.
henrique pereira dos santos

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