Garças-reais, rãs, carvalhos, mimosas e hakeas

Na passada quarta feira, dia 26 de Setembro, visitámos Costa Bacelo para acompanhar a evolução da propriedade e preparar futuras acções de voluntariado. O percurso iniciou-se na galeria ripícola, tendo-se estendido até à foz do rio Paivô e posteriormente até à zona superior da propriedade. Por fim regressamos ao ponto inicial pela meia encosta, para verificar de perto o desenvolvimento da área ardida em 2016.

Área gerida pela Montis em Costa Bacelo

Entrando pelo limite Leste da propriedade, e descendo até à linha de água, confirmámos que o esforço de controlo de mimosa que vem sendo feito nesta propriedade funcionou muito bem nas árvores que foram descascadas. Contudo, neste momento há um banco de sementes de mimosa a germinar e necessita de controlo de seguimento, assim como há muita rebentação de sistema radicular. Em visitas anteriores verificámos que algumas mimosas de pequeno porte tinham sido cortadas, e provavelmente parte desta rebentação de raiz terá origem nesses cortes. Uma parte da galeria ripícola, que no geral está em muito bom estado de desenvolvimento, beneficiaria nos próximos tempos de mãos voluntárias para descascar e arrancar mimosas de pequeno/ médio porte. Fizemos a nossa parte neste dia descascando algumas das mimosas e arrancando outras.


Mimosas descascadas mortas e novas rebentações à esquerda. Descasque de mimosas pela Rita Almeida à direita.

À excepção das mimosas, a galeria ripícola e o bosque imediatamente próximo continuam com uma estrutura coesa, madura e com muita diversidade de espécies (dominam o freixo, amieiro, pilriteiro, carvalho alvarinho, o feto real e o salgueiro, pontuados pela gilbardeira e a rosa brava no sub-bosque). Identificámos vestígios de lontra numa zona de rochas na margem do rio Paiva e fomos recebidos por uma garça-real que sobrevoava a zona.

Costa Bacelo - galeria ripícola e bosques de carvalho abaixo do caminho; eucaliptal acima do caminho (inclui área gerida pela ALTRI e área sob gestão da Montis).

Durante a pausa para o almoço identificámos uma vespa asiática mesmo junto ao rio Paiva. Apesar dos vários ninhos exterminados recentemente, de acordo com a plataforma SOS Vespa, esta continua presente na região. Infelizmente não nos foi possível identificar o ninho, mas continuaremos atentos em futuras visitas à propriedade.
Na foz do rio Paivô identificámos e fotografámos algumas rãs que habitam esta zona, e seguimos para a zona superior da propriedade para avaliar a evolução das encostas. 

Vespa asiática (Vespa velutina)

Rãs (Rana iberica e Rana perezi) na foz do rio Paiva

As encostas de Costa Bacelo que estão sob a gestão da Montis são maioritariamente compostas por medronheiro, como já é sabido, com algumas áreas com eucaliptal, dispersas e com pouco valor. As áreas de medronhal têm vindo a recuperar lentamente desde o fogo de 2016, e à data grande parte dos medronheiros começa já a exibir frutos que em breve estarão maduros. Aquele que nos parece continuar a ser o principal problema, como já antes tínhamos verificado, é a evolução das hakeas, que fruto do fogo libertaram as sementes e originaram núcleos relativamente dispersos mas também relativamente densos de pequenas plantas. Estes núcleos não nos parecem estar a crescer muito rapidamente, mas a capacidade de dispersão da espécie e o seu difícil maneio levam-nos a achar que será provavelmente prudente optar por tratar o problema enquanto ele ainda é pequeno, desde que os nossos recursos o permitam. A Hakea é uma espécie de difícil maneio devido às folhas espinhosas, pelo que o seu arranque, quando pequena, facilita o trabalho de controle da sua expansão. 

Hake queimada em 2016 à esquerda e novas plantas à direita.

A atravessar a propriedade de Sul para Norte, encontram-se duas linhas de água que, à semelhança do trabalho que a Montis tem feito no baldio de Carvalhais, serão pontos de partida interessantes para acelerar o trabalho da natureza: por serem áreas mais abrigadas e com maior disponibilidade de água e solo, possuem bosquetes com espécies ripícolas e quercíneas que são um bom ponto de partida para o restabelecimento de bosquetes autóctones nas encostas. Para ajudar esse processo iremos colocar pelo menos um tabuleiro para gaios na encosta da propriedade, próximo de um povoamento florestal, na esperança que os gaios aceitem a nossa ajuda e semeiem as bolotas nas encostas.

Vegetação numa das linhas de água que atravessa a propriedade de Sul para Norte, com regeneração de medronheiro e presença de carvalho e sobreiro.

Resumindo, pela resiliência natural dos seus habitats, Costa Bacelo encontra-se a evoluir bastante bem no pós-fogo. As galerias ripícolas continuam diversificadas e com boa estrutura, e é visível a diversidade de fauna e flora. Esperamos impulsionar esta evolução com a colocação dos tabuleiros para gaios.
Os principais problemas de gestão parecem continuar a estar relacionados com o controlo de invasoras, problema que a Montis irá continuar a lidar com uma visão de médio/ longo prazo. 
Os futuros voluntariados serão provavelmente dedicados ao controlo de mimosa e hakea, e à instalação do tabuleiro para gaios.


Algumas das espécies identificadas:

Garça-real (Ardea Cinerea)
Vespa-asiática (Vespa velutina)
Rã ibérica (Rana iberica)
Rã-verde (Rana perezi)
Borboleta-do-medronheiro (Charaxes jasius)
Aderno de folhas estreitas (Phillyrea angustifolia)
Gilbardeira (Ruscus aculeatus)
Carvalho alvarinho (Quercus robur)
Amieiro (Alnus glutinosa)
Feto real (Osmunda regalis)
Pilriteiro (Crataegus monogyna)
Roseira brava (Rosa canina)
As que foi possível fotografar encontram-se registadas no projeto Montis na plataforma iNaturalist.

Jóni Vieira


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