Mínimo sou


Quando me envolvo em campanhas de crowdfunding, como é o caso desta agora da Montis, acabo sempre a lembrar-me de Reinaldo Ferreira:
Mínimo sou,
mas quando ao Nada empresto
a minha elementar realidade,
o Nada é só o resto
A razão é simples: não têm conta o número de pessoas que me dizem que se precisamos de quase trinta mil euros, não vão ser um ou dois euros que se possa contribuir que farão qualquer diferença.
Na verdade, não é assim.
A fotografia deste post é de uma das propriedades a comprar.
Não tem grande interesse de conservação, não tem interesse de produção relevante, o custo da sua gestão é maior que o rendimento que pode proporcionar e, consequentemente, a gestão é abandonada, dando origem a estas situações que não dão palha nem dão espiga.
O país tem milhares de hectares nesta situação e não sabe o que lhes fazer.
O que a Montis aqui quer fazer é relativamente simples de explicar, mas bastante mais difícil de pôr em prática: não vamos gastar recursos a arrancar estes eucaliptos, mas vamos concentrar recursos na gestão da transição para uma mata com mais biodiversidade, mais sombra, capaz de aumentar o teor de matéria orgânica e de humidade no solo.
Não se faz de um dia para o outro.
Vai ser preciso contar com o fogo, que não passa por aqui há alguns anos, portanto deve estar para chegar.
Se formos a tempo e tivermos recursos, tentaremos preparar esta propriedade para conviver melhor com o fogo, ao mesmo tempo que vamos promovendo a vegetação natural que pode um dia vir a criar uma mata mais útil.
Se, em qualquer altura, houver a possibilidade de tirar algum rendimento destes eucaliptos - não contamos com isso, mas não é impossível, embora seja sempre residual nestas circunstâncias - vamos canalizar esses recursos para a reconversão deste povoamento e, aos poucos, vamos substituir estes eucaliptos por sobreiros e outros carvalhos.
Ora nada disso se faz de um momento para o outro e sem recursos e é aí que entram o tal euro ou dois: o meu euro não faz diferença por si, é verdade, mas o conjunto dos euros das pessoas de boa vontade e que não se resignam à opção entre a produção industrial de madeira ou o abandono, podem muito bem ser suficientes para mostrar que há alternativas socialmente mais úteis para a gestão destas áreas.
As pessoas, as empresas (muitas vezes pequenas empresas), outras organizações, que estejam disponíveis para nos entregar um euro não o vão ter de volta mas, com tempo, podem ter a satisfação de ter de volta uma paisagem onde se sintam melhor.
E, já agora, ter algum benefício social associado aos donativos, ao abrigo da lei do mecenato.
Pensem nisso, se realmente não valerá a pena arriscar um euro para cortar o nó górdio da falta de gestão desta propriedade.
É certo que com isso não mudámos o mundo, mas o resto é só o resto.
henrique pereira dos santos

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