O tempo não importa muito


Durante o dia de hoje, no baldio de Carvalhais, comentámos entre nós que o tempo não importa muito. Que os resultados na gestão dos processos naturais aparecem não quando nós queremos, o que normalmente é para ontem, mas quando há condições reunidas para isso, e quando damos tempo para que esses processos aconteçam. 

Há aproximadamente 3 anos, no início de 2018, estávamos a tentar perceber como a área que gerimos no baldio de Carvalhais iria reagir ao fogo controlado de Fevereiro de 2017. Foi o primeiro fogo controlado que fizemos, num total de cerca de 20 hectares. No primeiro ano após esse fogo decidimos direccionar a gestão para as áreas queimadas onde havia mais água e onde o solo parecia ter mais matéria orgânica. Parecia-nos lógico que estas opções melhorariam as probabilidades de termos alguns resultados no acelerar dos processos naturais. Concretamente estas opções traduziram-se na procura de pequenas baixas, linhas de água e pequenos vales, onde decidimos fazer sementeiras, estacarias de salgueiro para restaurar vegetação ripícola, e retenção de sedimentos para melhoria do solo. 

Foi também nesta altura que começámos a fazer plantações, sobretudo de carvalho, e isto porque encontrámos bons parceiros que apoiaram directamente o seu financiamento, como por exemplo a Mossy Earth, a EDP Renováveis ou a ACHLI (Associação de Conservação do Habitat do Lobo Ibérico). 

Nesta altura, entre outras áreas plantadas nesta parcela, plantámos uma pequena baixa orientada a nascente, com uma quantidade residual de carvalhos (cerca de 300).

Em Janeiro de 2021 voltámos a queimar esta primeira parcela, que tinha sido queimada em 2017. Tomámos a decisão de proteger as áreas plantadas, deixando-as fora do fogo. Tínhamos informação, mais ou menos consensual, de que árvores com menos de 4 anos dificilmente poderiam sobreviver a um fogo, mesmo que controlado. Protegemos todas as áreas plantadas com a excepção da pequena baixa orientada a nascente, que nos pareceu não ter uma única árvore viva. Parecia-nos tão pouco provável haver carvalhos vivos plantados que a decidimos queimar juntamente com o resto da parcela.

Após este último fogo controlado temos estado a reconhecer a parcela e a avaliar a sua resposta. Na pequena baixa orientada a nascente, que queimámos, encontrámos carvalhos plantados no início de 2018, com folha e aparentemente bastante vigorosos. Há um pouco de tudo: carvalhos ardidos que perderam a parte aérea e estão novamente a rebentar; carvalhos que o fogo não queimou; carvalhos que arderam e não recuperaram (pelo menos para já).

Carvalhos plantados em 2018, que arderam no fogo de 2021 e regeneraram imediatamente


Carvalhos plantados em 2018 que não arderam com o fogo de 2021

É verdade que o fogo controlado de 2021 foi significativamente menos intenso do que o de 2017, e a parcela ardeu em mosaico, tendo ficado várias "ilhas" de vegetação por arder. Julgamos que a redução de combustível que conseguimos com o fogo de 2017 terá contribuído para isso, e consequentemente para que este fogo de 2021 tenha tido um efeito muito pouco prejudicial para os pequenos carvalhos. 

Temos, nos próximos dois anos, mais dois fogos controlados em parcelas já queimadas, onde vamos ter a oportunidade de continuar a olhar para este tipo de situações, confirmar o que se repete ou não, e em que circunstâncias. Achamos que haverá outras situações como esta em áreas intervencionadas pela MONTIS no baldio de Carvalhais.

Uma coisa é certa: a gestão que a MONTIS tem feito no baldio de Carvalhais utilizando o fogo controlado a favor da gestão da biodiversidade tem sido um processo de aprendizagem constante.

Jóni Vieira


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