A opção da Montis por criar oportunidades de gestão num giestal denso e alto através de fogo controlado levanta muitas dúvidas a muita gente habituada a ver áreas ardidas e os efeitos de grandes fogos no solo e nas plantas.
Talvez seja útil usar uma imagem de Manuel Rainha para dar uma ideia das diferenças de efeito de fogos muito intensos, aqueles que conhecemos do Verão, e fogos controlados.
Em 2016 um grande fogo queimou quase trinta mil hectares nas serras da Freita e Arada.
Manuel Rainha, então técnico do ICNF, era responsável pelo uso de fogo controlado em grande parte da região, e em algumas áreas havia parcelas cujos combustíveis tinham sido tratados com fogo controlado.
A imagem acima mostra a fronteira entre a área tratada com fogo controlado dois ou três anos antes do fogo de 2016 (à esquerda na fotografia) e a área não tratado com fogo controlado antes do fogo de 2016 (à direita na fotografia).
Era, antes do fogo controlado, uma área bastante homogénea, quer no solo, quer na vegetação, e ardeu toda no mesmo fogo, em 2016.
A fotografia foi tirada oito meses depois do fogo e as diferenças, quer no solo, quer na vegetação, são evidentes.
O que aconteceu é que, mesmo tendo ardido as duas áreas ao mesmo tempo, no mesmo fogo, a área da esquerda tinha uma menor acumulação de combustível, em especial de combustíveis finos, por ter sido tratada antes com um fogo de baixa intensidade, na época certa.
Por essa razão, no fogo de 2016 ardeu com muito menor intensidade, o solo foi menos afectado e a vegetação respondeu muito melhor no pós fogo que na área à direita.
O fogo não tem sempre os mesmos efeitos, bem pelo contrário, os seus efeitos dependem essencialmente da meteorologia do dia (neste caso, sendo o mesmo fogo, era igual) e da quantidade e estrutura dos combustíveis finos, para além, naturalmente, das características da vegetação, que neste caso era igual.
Ao queimar agora, em Dezembro, com os combustíveis mantendo algum grau de humidade, o que diminui a energia libertada pela combustão, com temperaturas amenas ou baixas, com ventos fracos a moderados, o que se consegue é uma diminuição dos combustíveis mais finos (folhas, raminhos, cascas, manta morta) sem que o solo seja afectado de forma relevante, sem que a vegetação presente arda profundamente e sem que as sementes e gomos de renovo das plantas sejam especialmente afectados.
No caso da Montis, que é um caso menos vulgar do uso do fogo, porque o usa com objectivos de conservação e não de defesa da floresta contra incêndios, esta operação permite entrar no terreno, conhecê-lo melhor, escolher as áreas mais favoráveis de intervenção para retenção de solo e humidade, fazer sementeiras directas, algumas plantações, isto é, apoiar os processos naturais aumentando a velocidade de recuperação destes sistemas.
Estas acções seriam sempre úteis, mas o giestal inicial tenderia a instalar-se de novo sem gestão e por essa razão iremos repetir o fogo daqui a quatro anos.
Nessa altura será um fogo diferente, porque em vez de um giestal denso com dez anos, teremos um mato mais diversificado com quatro anos, com muito menos combustível disponível, o que nos permite conduzir o fogo de uma forma mais precisa e, nos casos em que se justifique, preservar as áreas plantadas não as deixando arder, ou afastando previamente o mato do tronco de árvores isoladas que nos pareçam mais importantes, de maneira a que o segundo fogo não afecte as árvores demasiado jovens que existam, sejam elas plantadas por nós, ou semeadas por nós ou pelos gaios, ou resultem da regeneração natural que fomos conduzindo para aumentar a velocidade do seu crescimento.
E se, entretanto, vier um fogo de Verão, como é possível, estas áreas podem ser usadas pelo combate para travar o fogo ou, não o sendo, aí está a fotografia acima para mostrar que, provavelmente, a vegetação vai reagir melhor que sem estas acções, sendo a afectação do solo será muito menor.
Tal como a ideia de inocular o vírus da doença para nos proteger dela pareceu aos nossos antepassados um ideia absurda, também há muita gente com dificuldade em aceitar que o uso do fogo (e do gado) é a melhor opção que temos para conviver serenamente com o fogo.
E tal como as vacinas são hoje em dia largamente consensuais, esperamos contribuir, com a demonstração prática das vantagens do uso do fogo, para que amanhã ninguém estranhe uma boa utilização do fogo como a melhor vacina para o fogo selvagem e mortífero.
Talvez seja útil usar uma imagem de Manuel Rainha para dar uma ideia das diferenças de efeito de fogos muito intensos, aqueles que conhecemos do Verão, e fogos controlados.
Em 2016 um grande fogo queimou quase trinta mil hectares nas serras da Freita e Arada.
Manuel Rainha, então técnico do ICNF, era responsável pelo uso de fogo controlado em grande parte da região, e em algumas áreas havia parcelas cujos combustíveis tinham sido tratados com fogo controlado.
A imagem acima mostra a fronteira entre a área tratada com fogo controlado dois ou três anos antes do fogo de 2016 (à esquerda na fotografia) e a área não tratado com fogo controlado antes do fogo de 2016 (à direita na fotografia).
Era, antes do fogo controlado, uma área bastante homogénea, quer no solo, quer na vegetação, e ardeu toda no mesmo fogo, em 2016.
A fotografia foi tirada oito meses depois do fogo e as diferenças, quer no solo, quer na vegetação, são evidentes.
O que aconteceu é que, mesmo tendo ardido as duas áreas ao mesmo tempo, no mesmo fogo, a área da esquerda tinha uma menor acumulação de combustível, em especial de combustíveis finos, por ter sido tratada antes com um fogo de baixa intensidade, na época certa.
Por essa razão, no fogo de 2016 ardeu com muito menor intensidade, o solo foi menos afectado e a vegetação respondeu muito melhor no pós fogo que na área à direita.
O fogo não tem sempre os mesmos efeitos, bem pelo contrário, os seus efeitos dependem essencialmente da meteorologia do dia (neste caso, sendo o mesmo fogo, era igual) e da quantidade e estrutura dos combustíveis finos, para além, naturalmente, das características da vegetação, que neste caso era igual.
Ao queimar agora, em Dezembro, com os combustíveis mantendo algum grau de humidade, o que diminui a energia libertada pela combustão, com temperaturas amenas ou baixas, com ventos fracos a moderados, o que se consegue é uma diminuição dos combustíveis mais finos (folhas, raminhos, cascas, manta morta) sem que o solo seja afectado de forma relevante, sem que a vegetação presente arda profundamente e sem que as sementes e gomos de renovo das plantas sejam especialmente afectados.
No caso da Montis, que é um caso menos vulgar do uso do fogo, porque o usa com objectivos de conservação e não de defesa da floresta contra incêndios, esta operação permite entrar no terreno, conhecê-lo melhor, escolher as áreas mais favoráveis de intervenção para retenção de solo e humidade, fazer sementeiras directas, algumas plantações, isto é, apoiar os processos naturais aumentando a velocidade de recuperação destes sistemas.
Estas acções seriam sempre úteis, mas o giestal inicial tenderia a instalar-se de novo sem gestão e por essa razão iremos repetir o fogo daqui a quatro anos.
Nessa altura será um fogo diferente, porque em vez de um giestal denso com dez anos, teremos um mato mais diversificado com quatro anos, com muito menos combustível disponível, o que nos permite conduzir o fogo de uma forma mais precisa e, nos casos em que se justifique, preservar as áreas plantadas não as deixando arder, ou afastando previamente o mato do tronco de árvores isoladas que nos pareçam mais importantes, de maneira a que o segundo fogo não afecte as árvores demasiado jovens que existam, sejam elas plantadas por nós, ou semeadas por nós ou pelos gaios, ou resultem da regeneração natural que fomos conduzindo para aumentar a velocidade do seu crescimento.
E se, entretanto, vier um fogo de Verão, como é possível, estas áreas podem ser usadas pelo combate para travar o fogo ou, não o sendo, aí está a fotografia acima para mostrar que, provavelmente, a vegetação vai reagir melhor que sem estas acções, sendo a afectação do solo será muito menor.
Tal como a ideia de inocular o vírus da doença para nos proteger dela pareceu aos nossos antepassados um ideia absurda, também há muita gente com dificuldade em aceitar que o uso do fogo (e do gado) é a melhor opção que temos para conviver serenamente com o fogo.
E tal como as vacinas são hoje em dia largamente consensuais, esperamos contribuir, com a demonstração prática das vantagens do uso do fogo, para que amanhã ninguém estranhe uma boa utilização do fogo como a melhor vacina para o fogo selvagem e mortífero.
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