A Montis e o crowdfunding

Com o lançamento da campanha “Do eucaliptal até à mata” (8%, 1590 euros, 42 apoiantes em sete dias é bom, muito obrigado), levantou-se uma questão muito interessante: a Montis está a usar o crowdfunding como modelo de financiamento para a gestão corrente em vez de o usar para investimento?

A questão é muito interessante e vale a pena procurar explicitar a visão que a Montis tem do crowdfunding, para permitir que qualquer pessoa decida, conscientemente, se faz sentido apoiar esta campanha.

Desde o seu início que a Montis diz que tem como objectivo ter uma estrutura de financiamento que se aproxime desta figura:


Deste ponto de vista, o crowdfunding deve estar fortemente ligado ao investimento e à maior criação de valor.

O problema é que esta estrutura de financiamento, desejável, está ainda muito longe de ser a estrutura possível de financiamento da Montis, desde logo porque estamos ainda longe de ter um número de sócios que nos permita financiar todas as necessidades básicas com as quotizações.

Também estamos muito longe de ter criado capacidade para que a visitação e a venda de produtos sejam verdadeiros pilares de financiamento da Montis, continuando a ser, por enquanto, fontes de financiamento marginais (no caso dos produtos o valor das receitas é quase zero). Uma das razões para assim ser é que é preciso tempo e estrutura para criar um fluxo de visitação de dimensão apreciável e, mais ainda, ter capacidade organizacional e logística para conseguir produzir, armazenar, comercializar e entregar produtos. Até agora não temos conseguido chegar a esse objectivo.

Por estas duas razões, os projectos representam neste momento um peso muito maior que o desejável no financiamento da Montis, absorvendo grande parte dos recursos que talvez devessem estar concentrados em criar valor, de forma autónoma, para a associação.

As doações, onde se inclui o crowdfunding, acabam, por isso, por ser mais que um sistema de financiamento do investimento: o crowdfunding representa uma oportunidade de comunicação da Montis muito grande, de que resultou uma relação directa entre a angariação de sócios e as campanhas de crowdfunding anteriores.

Dito de outra forma, o crowdfunding é um instrumento financeiro, com certeza, mas é também um instrumento de comunicação e angariação de sócios que, a prazo, se espera que vá aproximando a estrutura de financiamento da Montis da estrutura desejável reproduzida acima.

Em qualquer caso, o crowdfunding nunca foi usado como um instrumento privilegiado de financiamento da gestão corrente da Montis. Marginalmente isso acontece, até porque as quotas da Montis são muito baixas e o crowdfunding é um instrumento que permite aos sócios que querem apoiar mais a associação fazê-lo de forma simples e orientada para o investimento, mas todas as campanhas foram campanhas de investimento.

As campanhas de compra de terrenos por razões evidentes, a campanha para a experimentação dos tabuleiros para gaios também, e a campanha para criar um verdadeiro programa de voluntariado – que eu diria que não atingiu todos os objectivos propostos, desse ponto de vista – foi também um esforço para desenvolver uma parte da associação que se reconhecia ser importante.

O que agora se propõe continua a ser uma campanha para financiar uma acção definida que, uma vez executada, não se repete naquelas propriedades: reconverter eucaliptais uma vez, num prazo relativamente curto, redefinindo as condições de evolução dos sistemas naturais nas áreas de intervenção.

Em resumo, há aspectos não financeiros nesta campanha que se prendem com a comunicação e a angariação de sócios, mas essencialmente continuamos a usar o crowdfunding para financiar acções específicas de investimento.

Neste caso, acreditamos que o modelo de reconversão de eucaliptais que vamos usar tem um grande potencial de replicabilidade, não é tecnicamente complicado, não exige conhecimento ou formação específica e qualquer proprietário que se queira ver livre dos eucaliptos da sua propriedade, mantendo-a sem objectivos produtivos e dedicada à conservação, com certeza beneficiará com a experiência que estamos a tentar financiar com esta campanha de crowdfunding.

Não podemos dizer que um dia não façamos um apelo à resolução de problemas financeiros graves que possam via a existir, mas neste caso estamos mesmo a investir directamente em conservação da natureza e aumento do capital natural.

henrique pereira dos santos

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