Na semana passada o Siebe e a Marie, voluntários do LIFE VOLUNTEER ESCAPES, encontraram um insecto curioso no baldio de Carvalhais, enquanto conduziam um dos poucos carvalhos da propriedade.
Como não são especializados no assunto, não sabiam do que se tratava. Mas acharam o insecto curioso e enviaram-nos a fotografia para podermos identificar a espécie. À primeira vista pareceu-nos um Polydrusus smaragdulus, um bichinho relativamente comum nas propriedades que gerimos, com uma casca metalizada e cores esverdeadas.
Depois de abrir a fotografia, ampliar e analisar com mais pormenor, apercebemo-nos que o que os voluntários encontraram e fotografaram, era um indivíduo da espécie, Platycerus spinifer, um escaravelho da família Lucanus, que inclui a conhecida Vaca-loura (Lucanus cervus).
Este escaravelho é um endemismo ibero-francês (ou seja, uma espécie que se desenvolveu e evoluiu no território ibérico e francês, com distribuição mundial limitada a essa região), tem registos muito escassos e localizados, e na plataforma iNaturalist há apenas 4 registos em Portugal continental.
A MONTIS tem recorrido ao fogo controlado no baldio de Carvalhais para reduzir a densidade do giestal existente, criar oportunidades de gestão e diversificar o mosaico de paisagem, acelerando a instalação de bosquetes de carvalho. No meio do giestal há alguns carvalhos, que procuramos conduzir em altura.
Foi num destes carvalhos, no meio de uma área tratada com fogo controlado, que os voluntários encontraram o Platycerus spinifer, que durante a poda da árvore pousou na mão de uma voluntária.
O Platycerus spinifer ocorre normalmente em bosques e florestas caducifólios, como bosques de carvalho-alvarinho. É uma espécie simultaneamente polífaga e saproxílica, o que significa que os adultos se alimentam de açucarados resultantes das árvores, e as larvas se alimentam de madeira em decomposição, especialmente de espécies arbustivas como as giestas. Estas especificidades encontram-se no baldio de Carvalhais: alguns, poucos, carvalhos que estamos a tentar potenciar, em mosaico com áreas de giestal queimado em decomposição, áreas de outros matos, e áreas não intervencionadas que começam lentamente a evoluir para bosquetes.
Esta história trouxe-nos duas coisas particularmente interessantes para nós: o reforço prático da nossa ideia de que qualquer pessoa pode contribuir para a gestão da biodiversidade; uma indicação prática de que o trabalho que estamos a fazer de diversificação do mosaico de paisagem com o uso de fogo controlado pode estar a produzir resultados positivos na gestão da biodiversidade.
Parece-nos que gerir paisagem e biodiversidade não tem necessariamente que ser um processo complexo e caro. Parece-nos que não deve ser um processo exclusivo de alguns sectores e pessoas. Parece-nos que tem que ser algo quotidiano, em que todos nós podemos ter algo a fazer e a dizer. E acima de tudo parece-nos que há alternativas para obter resultados razoáveis ou bons, não perfeitos, mas razoáveis ou bons. E parte do trabalho da MONTIS está na procura e ensaio dessas alternativas.
Este foi o primeiro registo da MONTIS como embaixadores no projecto Vaca-Loura.pt. Os voluntários ficaram muito contentes de terem feito um registo de um insecto relativamente difícil de encontrar.
É possível ver o registo feito no projecto da MONTIS no iNaturalist: https://www.inaturalist.org/observations/79633959
Margarida Silva e Jóni Vieira
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