É o olho do dono que engorda o porco

Propriedade de Vieiro, em 2017, um ano após um grande fogo em 2016

Como faço às vezes, republiquei o último post num grupo de Facebook.

Luís Fontinha sugeriu que o que se via em alguns carvalhos em  Vieiro poderia ser obra de veados, embora houvesse pessoas que sugeriam que fosse obra de corços.

Os argumentos de Luís Fontinha pareciam fazer sentido, e é com certeza um experimentado observador da natureza numa região do país em que os veados são abundantes.

O problema é que eu não conhecia informação sobre a presença de veados naquela região.

Comecei por umas perguntas a Jóni Vieira sobre a existência de informação sobre veados na região, perguntei a Nuno Campos, um bom naturalista de Santa Cruz da Trapa e perguntei a Carlos Fonseca, com longos anos de trabalho quer em cervídeos, quer na região, enquanto Jóni Vieira fazia também algumas diligências rápidas para excluir a hipótese dos veados, como parecia mais provável.

Para minha surpresa, a informação que rapidamente juntámos não exclui, nem de perto, nem de longe, a hipótese dos veados terem chegado às serras de Montemuro, Arada e Freita, em especial nos seus vales mais fundos e menos usados. Por maioria de razão, o Caramulo também não pode ser excluído como área de possível expansão e presença da espécie.

O facto é que Carlos Fonseca confirma a boa densidade de corços nessas regiões e a presença sólida de veados para Norte do Mondego, com evidências, por exemplo, em Carregal do Sal, uma área a partir da qual rapidamente chegam às serras mais a Norte.

Tudo isto não passam de hipóteses, nem sabemos se estamos perante marcas de território de um macho de veado, nem se, sendo isso verdade, estamos perante introduções ilegais ou expansão natural da espécie, e muitas outras coisas que não sabemos.

Lá para Setembro, se de facto houver veados instalados na região, alguém ouvirá a sua brama, com certeza, que é bem mais fácil que vê-los em regiões com tão pouca gente.

O que gostaria de fazer ressaltar é que tal como os voluntários da Montis fizeram uma observação rara de um insecto apenas porque fotografaram uma coisa pouco habitual, sem ter a menor ideia da raridade que estavam a fotografar, também umas feridas estranhas nalgumas árvores foram suficientes para nos fazer perceber que a hipótese de termos veados nas propriedades não é completamente absurda.

Em qualquer destes dois exemplos, é a presença de pessoas a gerir terrenos, neste caso com objectivos de conservação, que permite observar, registar e comunicar a imensa diversidade e riqueza associada a ecossistemas maduros e evoluídos.

Este é um dos resultados mais importantes, mas menos visíveis, do trabalho da Montis: criar condições para que haja gente pelos montes, nos terrenos mais marginais e abandonados por todos.

É muito bom verificar a pujança da recuperação dos sistemas naturais, mas melhor ainda é ver e dar a conhecer a todos, incluindo os que não podem ou não querem lá ir, mas gostam de saber que também há boas notícias no mundo da biodiversidade e da conservação da natureza.

henrique pereira dos santos

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