De 10 a 12 de abril, a MONTIS organizou a conferência “A primeira década da MONTIS - um olhar para o futuro”, enquadrada na celebração dos 10 anos da associação.
No dia 12 de abril, a sessão "Sustentabilidade e conservação", realizada no Instituto Politécnico de Viseu, teve início com a apresentação "O imperativo de restaurar a natureza" de Humberto Rosa, Diretor para a Biodiversidade na Direção-Geral do Ambiente, Comissão Europeia. A apresentação abordou a Diretiva Habitats e a Diretiva Aves, as metas globais no que toca à conservação da natureza, em particular em relação a rios, polinizadores, ecossistemas marinhos, e falou também sobre indicadores de biodiversidade. Realçou a importância de se trabalhar para florestas mais resilientes aos fogos.
Paulo Pereira, em representação da NBI - Natural Business Intelligence, trouxe-nos a apresentação "Métricas de sustentabilidade", enquadrando a metodologia que a empresa utiliza. Dando destaque ao facto de que maior parte das espécies de flora ameaçadas encontram-se em prados e pastagens, é importante ver a paisagem em mosaico, com os seus diferentes habitats, e não de uma forma homogénea. Apresentou alguns casos de sucesso de projetos desenvolvidos com entidades parceiras, utilizando métricas simples, tendo em conta os seguintes critérios: Alto Valor Natural; Habitats; Biodiversidade; Serviços de Ecossistema e Soluções de Base Natural (como sebes, rotundas, etc). Por fim, o papel dos consultores consiste em propor opções (como por exemplo incluir indicadores de ação), mas quem decide os indicadores são as entidades contratantes. É preciso ter estas métricas para conseguir uma transição para a sustentabilidade. Podem ver a apresentação aqui.
José Manuel Lima Santos, em representação do Instituto Superior de Agronomia, falou-nos de "Serviços de ecossistema". A sua apresentação iniciou-se com o conceito de regime de fogo: tendo como indicadores a incidência do fogo e a concentração temporal do fogo (quanto maior a concentração mais "destruidor" é o fogo). Ao longo da sua apresentação, foi enfatizada a importância de olhar para dados empíricos, utilizando estes como informação de suporte para a sua apresentação. Falou do efeito do despovoamento, da área agrícola (a agricultura é hoje ainda é mais importante para reduzir a incidência e capacidade destrutiva do fogo do que há umas décadas atrás). "Tudo se resume ao mosaico" fazendo a ligação com a apresentação anterior, do Paulo Pereira da NBI. Usando um caso de estudo recente, demonstrou que os regimes de fogo em vegetação natural (carvalhais, matos) é muito menos destruidor em comparação com o regime em produções florestais (de eucalipto e pinheiro).
Carlos Aguiar, em representação da Escola Superior Agrária de Bragança, trouxe-nos a apresentação "Criar solo" tendo como base a sua experiência ao longo da sua carreira, nomeadamente na serra do Alvão, em Trás-os-Montes. Assim, a fertilidade dos solos foi dividida em duas componentes, a componente física (normalmente mais valorizada pelos engenheiros florestais) e a componente química (normalmente mais valorizada pelos agrónomos). Referiu-se o impacto de nova maquinaria com a evolução da tecnologia, nomeadamente de "desmatadeiras", que afeta negativamente a infiltração da água no solo, aumentando a erosão do solo, para o caso das culturas lenhosas. Já no contexto de pastagens biodiversas, falou-nos da alteração da trofia do solo, através da inserção de calcário, que altera os valores de pH, e carregamento com fósforo, explicando que em certos contextos se tem de utilizar adubos azotados ou adubos de síntese. Já falando da floresta, referiu as plantações ao "covacho" vs "vala e cobro". Por fim, falou no contexto nas áreas de baldios, falando do papel dos pastores para a gestão e prevenção de fogos com maior impacto destrutivo.
Avelino Rego, em representação do baldio de Alvadia, falou-nos de "Sustentabilidade e Economia Rural", partilhou uma reflexão com foco nos regimes de fogo, mencionando as alterações que se têm vindo a notar nestes regimes "já é possível haver registos de fogo no inverno" e falou da liberalização do fogo (com o devido acompanhamento) como forma de combate ao fogo clandestino.
António Alexandre, da Consultoria Gastronómica, falou-nos de "Sustentabilidade na Alimentação". Foi abordado o tema em como a alimentação pode ajudar a construir pontes para conhecer melhor o território e os produtos que usufruímos. Salientou que é cada vez mais importante perceber o que a natureza produz e quando o produz para uma melhor gestão da paisagem. Falou também da sua abordagem pessoal em cozinhar com a atenção de manter o alimento o mais natural possível e a preferência por produtos locais pois a boa qualidade de produtos atrai negócio e turismo. Porém é importante ter em conta a sustentabilidade a longo prazo desses produtos, pelo que a escolha do consumidor deve ser mais consciente, com produtos da época e locais.
Esta sessão permitiu aos participantes compreender melhor a importância de dados empíricos e métricas para gestão da paisagem e diferentes formas de atuar, desde à prática nos terrenos até ao nosso prato.
Se pretende contribuir para a sustentabilidade e conservação da natureza, relembramos que a MONTIS tem neste momento uma campanha de crowdfunding a decorrer, "Nos cumpre tê-lo com cuidado", cujo objetivo é criar um fundo exclusivo para aquisição de novos terrenos. Para nos apoiar vá a https://ppl.pt/montis.
Continuaremos a relatar a conferência em publicações futuras.
Comentários
Enviar um comentário