Há verde no pós-fogo de Costa Bacelo

No passado dia 27 de setembro, fomos visitar as propriedades de Costa Bacelo e Vieiro, para avaliar o impacto dos incêndios que ocorreram na semana entre 15 e 19 de setembro.

Durante a semana em que ocorreram os incêndios, fomos acompanhando a sua evolução através do European Forest Fire Information System (EFFIS). Com base nesta plataforma e nos relatos que fomos recebendo das áreas ardidas em Arouca, na envolvente do rio Paiva, visitámos Costa Bacelo com a expetativa que a propriedade estaria afetada pelos incêndios, mas sem termos noção da intensidade com que estes teriam afetado a área gerida pela MONTIS, quer porque a informação não mostrava muitos focos de incêndio na zona, quer porque a Altri, a pedido da MONTIS, tinha feito já este ano, um desbaste das giestas em torno dos carvalhos.

As áreas geridas pela MONTIS têm objetivos de conservação da natureza e aumento da resiliência a riscos naturais, como o fogo. Estas correspondem às áreas de galeria ripícola, e faixa adjacente, na margem esquerda do rio Paiva, e nas cotas mais altas, a áreas dominadas por arbustivas, com destaque para a presença de vários medronheiros. A restante área, também propriedade da ALTRI, é maioritariamente ocupada por eucaliptal de produção.

Aparentemente, Costa Bacelo ardeu devido a projeções de incêndios vizinhos, nomeadamente da margem direita do Paiva (Paradinha), que criando ignições na zona de eucaliptal, terão subido e descido a encosta. A área de eucaliptal ardeu em grande extensão, mas devido à gestão e à descontinuidade de combustíveis, tratou-se de um fogo rasteiro, queimando o sub-coberto. Todos os eucaliptos mantiveram as copas, apesar de terem secado as folhas.

Na cota mais baixa da propriedade, na galeria rípicola do rio Paiva e área adjacente geridas pela MONTIS, o impacto do incêndio é bastante baixo na zona mais a montante e nulo na zona junto à confluência do rio Paivô. Desde que a MONTIS assumiu a gestão destas áreas que o objetivo tem sido controlar as espécies invasoras, como as mimosas, e simultaneamente apoiar a regeneração natural do carvalhal e da galeria ripícola.

Na área mais a montante, verificámos que terão existido algumas projecções, com alguma manta morta, giestas, silvas e as bases dos bosquetes de carvalhal adulto queimadas, mas em manchas descontínuas, e sem ter atingido a maior parte das copas, devido a uma eventual baixa intensidade do fogo, mas também à descontinuidade de combustível e à humidade que caracteriza esta faixa próxima do rio.

O tabuleiro para gaios colocado em 2023, nessa área não ardeu, atestando a baixa intensidade do fogo que atingiu o local.

Na área junto à foz do rio Paivô o fogo não atingiu a faixa gerida pela MONTIS, tendo-se extinguido junto à estrada, como se vê na foto de topo.

Esta área apresenta bosquetes de carvalho bem desenvolvidos, com árvores de grande porte, e alguns carvalhos mais pequenos em regeneração. Na sequência de uma decisão tomada em 2023, e por insistência da MONTIS, na primavera de 2024, a ALTRI cortou o giestal em redor dos carvalhos em regeneração, criando descontinuidade de combustíveis. O resultado destas intervenções é visível na resiliência aos fogos. Anteriormente, este giestal representava uma carga combustível contínua que poderia ter sido atingido e propagado as o fogo, afetando provavelmente os carvalhos em regeneração.

A maior preocupação na gestão pós-incêndio, será o controlo da flora invasora. Felizmente, como a faixa ribeirinha apenas ardeu pontualmente, os vários núcleos de mimosas controlados ao longo dos anos, representam pouco perigo de expansão nesta zona. No entanto, é nas cotas mais altas, que arderam, que se encontra a prioridade na gestão de invasoras. Estas áreas apresentavam vários indivíduos de háquea-picante, que pela dificuldade de acesso a MONTIS ainda não tinha conseguido controlar. Será prioritário acompanhar a regeneração desta espécie invasora, que é fortemente favorecida com o fogo, controlando os novos indivíduos o mais rápido possível.

A galeria ripícola do rio Paiva, gerida pela MONTIS em Costa Bacelo, representa agora um refúgio para a biodiversidade. Com a perda de habitat que ocorreu ao nível da paisagem, esta zona de Costa Bacelo, praticamente intocada pelo fogo, constitui agora uma fonte de alimento e área de abrigo para a fauna.

Durante a visita encontrámos vários dejetos recentes de fauna. Neste sentido, aproveitámos para colocar duas câmaras de foto-armadilhagem para tentar registar a movimentação de fauna e a sua composição, o que permitirá comparar com os registos que fizemos em anos anteriores e muito particularmente esta primavera.

Para 2025, está prevista a instalação de dois Biospots na galeria ripícola, com o apoio da Altri e da Tagis, que receberão quatro painéis informativos sobre as espécies que ocorrem na propriedade. Este projeto ganha agora uma importância redobrada para mostrar a conservação do habitat destas espécies e na educação para preservação das mesmas.

Comentários

  1. Agradeço o envio do link para actualização. Fico feliz por o fogo ter tido um impacto pequeno. É possível outro modo de gestão, sem que seja somente combater o fogo quando arde. Obrigada!

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