No passado dia 27 de setembro, fomos visitar as propriedades de Costa Bacelo e Vieiro, para avaliar o impacto dos incêndios que ocorreram entre 15 e 20 de setembro.
Durante a semana em que ocorreram os incêndios, fomos acompanhando a evolução dos mesmos através do European Forest Fire Information System (EFFIS). Com base nesta plataforma e nos relatos que fomos recebendo, visitámos Vieiro com a expetativa de que a propriedade não teria sido muito afetada pelos incêndios, eventualmente apenas na encosta a sul. No entanto, não foi esse o cenário que encontrámos, com a totalidade da propriedade a ser percorrida pelo fogo.
Começámos a visita pela zona mais a norte da propriedade, numa zona de pinhal, onde, na época de 2021/2022, a MONTIS plantou cerca de 1 000 plantas nativas de várias espécies. A sombra fornecida pelos pinheiros, mostrou ser benéfica para as plantações, que sobreviveram e cresceram nesta zona.
Em 2021, também foi colocado um tabuleiro para gaios neste pinhal com a ajuda dos voluntários do projeto Nature.com.
Este pinhal ardeu completamente, com grande intensidade, atingindo as copas dos pinheiros. As plantações e o tabuleiro para gaios também arderam. Na próxima primavera, iremos avaliar a regeneração destas plantações e do pinhal.
A mesma encosta, mas a cotas mais baixas, é maioritariamente composta por eucaliptal, mas com um carvalhal jovem, em regeneração no sob coberto dos eucaliptos. Desde que a MONTIS assumiu a gestão desta propriedade, que uma das intervenções principais tem sido o apoio da regeneração dos carvalhos, através de podas, de forma a que o carvalhal possa substituir o eucaliptal quando os eucaliptos forem removidos. O eucaliptal não ardeu completamente, pois dada a sua altura, o fogo não atingiu as copas. Contudo, infelizmente, a maioria dos carvalhos foi bastante atingida pelo fogo e apenas alguns indivíduos mantiveram as folhas. Esperamos, no entanto, que alguns destes carvalhos venham a regenerar de copa e os restantes de raiz.
Carvalho queimado |
Outra das prioridades na gestão de Vieiro tem sido o controlo de plantas invasoras. A propriedade apresentava dois núcleos de mimosas, que foram bastante intervencionados ao longo dos anos.
O núcleo mais pequeno, na cota mais baixa da propriedade, já apresentava bons resultados, com muitas das mimosas descascadas já secas. As intervenções atualmente focavam-se sobretudo no controlo da nova rebentação, que era cada vez menor. Inclusive, já tínhamos plantado algumas espécies nativas, como carvalho-alvarinho e sobreiro, para ocupar o espaço anteriormente das plantas invasoras.
Mimosas queimadas |
O outro núcleo de mimosas, na cota mais alta da propriedade, por estar debaixo de uma linha elétrica, era constantemente alvo de corte raso ao abrigo das Faixas de Gestão de Combustiveis, e por isso não só atingia maiores dimensões, como era mais difícil de controlar.
Área debaixo da linha elétrica onde se encontrava o núcleo de mimosas |
Ambos os núcleos de mimosas arderam completamente, sendo agora prioritário monitorizar a nova rebentação e controlá-la, para prevenir a expansão das áreas invadidas.
Existem também alguns indivíduos de háquea-picante, dispersos pontualmente pela propriedade. Nas propriedades vizinhas o grau de invasão é maior, com grandes áreas ocupadas por esta espécie. Será necessário, tal como com as mimosas, monitorizar a rebentação desta espécie e controlá-la.
Háquea-picante queimada |
Mas nem tudo foi mau do ponto de vista da conservação da biodiversidade. Desde 2017, que a MONTIS tem apostado em plantações de espécies nativas, maioritariamente quercíneas, nas antigas leiras agrícolas localizadas na encosta da margem esquerda da linha de água que atravessa a propriedade. Estes patamares estavam, até agora, dominados por giestas e silvas, onde íamos, com algum esforço, abrindo clareiras para plantação, com o objetivo de instalar um bosquete com espécies nativas variadas, (como carvalho-alvarinho, sobreiro e bétula), e de recuperar a galeria ripícola.
Giestal cortado para abrir clareiras para plantação |
O incêndio queimou todo o giestal, abrindo o acesso a todos os patamares, incluindo os mais próximos da linha de água.
Patamares antes do incêndio |
Patamares depois do incêndio |
Ainda que o fogo tenha afetado as plantações, devido às clareiras que tinham sido abertas e às caldeiras feitas para as plantações, muitas destas plantas apresentam bons sinais de que irão regenerar, com muitas delas ainda flexíveis e outras com o caule não queimado.
Ficámos agora com a oportunidade de controlar o crescimento do giestal e silvado, dando oportunidade de regeneração às plantações existentes e, simultaneamente, de poder plantar espécies nativas nos restantes patamares, reforçando a ideia de criação de um bosque e de recuperar a galeria ripícola.
Por fim, será também importante acompanhar a evolução da galeria ripícola principal da propriedade, a qual inclui indivíduos de grande porte, e que também ardeu. A rápida recuperação desta linha de água, como esperamos que aconteça, permitirá, num curto período, disponibilizar refúgio a várias espécies de fauna.
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