Uma manhã de cantos

No dia 11 continuámos a atividade de bioblitz, que tinha iniciado na noite anterior com os Morcegos, focando a manhã na observação e registo de avifauna com o apoio do Pedro Cardia o responsável regional do III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal.

A caminho da propriedade Vieiro, rodeados pela galeria ripícola da ribeira que passa em Deilão, começámos a treinar a audição e, comparando os cantos das aves com outros sons como no caso do chamariz, as chaves, ou o pica-pau, o riso humano, fomos conseguindo distinguir as várias espécies e identificar, para além das que encontrámos posteriormente na propriedade, espécies como os coloridos chamariz (Serinus serinus) e chapim-azul (Cyanistes caeruleus).


Entrando na propriedade identificámos espécies como o tentilhão (Fringilla coelebs), o chapim-real (Parus major), o chapim-carvoeiro (Periparus ater), a cotovia-das-árvores (Lullula arborea) e o pica-pau-malhado-grande (Dendrocopos major) através das diferenças dos cantos. Durante este processo o Pedro foi ainda explicando os diferentes sons que existem, como os de alarme que são mais universais, ou a existência de espécies imitadoras, como as gralhas, que para além de conseguirem imitar outras espécies de avifauna conseguem, por exemplo, imitar sons como o ladrar de um cão.

Quando nos deparámos com o canto de uma ferreirinha-comum (Prunella modularis) falámos sobre as diferentes estratégias de reprodução existentes como no caso das ferreirinhas que formam um par social mas que também se reproduzem com os vizinhos ou o caso dos chapim-rabilongo (Aegithalos caudatus) que podem ter ajudantes para cuidar da prole.

Componente Avifauna do Bioblitz (no âmbito do projeto LIFE ELCN LIFE16 PRE/DE7005) com os voluntários do projecto LIFE VOLUNTEER ESCAPES (LIFE17 ESC/PT7003)

À medida que nos fomos afastando de Deilão e subindo a propriedade fomo-nos apercebendo de uma diminuição do ruído e do número de cantos. No ponto superior a que chegámos era possível identificar, junto das ribeiras, pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), gaio-comum (Garrulus glandarius), carriça (Troglodytes troglodytes) e toutinegra-de-barrete-preto (Sylvia atricapilla).

Tendo em conta as nacionalidades dos voluntários de longa duração do projeto LIFE Volunteer Escapes (LIFE17 ESC/PT/003) que nos acompanharam nesta atividade, fomos ainda discutindo as distribuições das diferentes espécies, as diferentes espécies existentes em cada país e mencionaram-se ainda as diferenças que os cantos das aves ("sotaques") podem ter de região para região. Para além disto, discutimos ainda as diferenças das dispersões das espécies tendo em conta a paisagem e as alterações climáticas.


De volta a Deilão parámos ainda numa pequena charca para observar uma rã ibérica (Rana iberica), um tritão marmoreado (Triturus marmoratus) e uma rã verde (Pelophylax perezi) que tinha algo que à distância nos pareceram fungos. Enquanto observávamos anfíbios e alguns insetos fomos chamados à atenção pelo som de alarme vindo de uma gralha-petra (Corvus corone) e, observámos uma águia de asa redonda (Buteo buteo) em voo no topo da propriedade. Ainda dentro da propriedade identificámos uma estrelinha-de-cabeça-listada (Regulus ignicapilla), uma das aves mais pequenas da europa.


Durante a pausa para o almoço e enquanto não começávamos a parte da atividade com foco na flora observámos, em Deilão, várias espécies de andorinhas (andorinha-dáurica (Cecropis daurica) e andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica)), um melro de água (Cinclus cinclus) na ribeira e para fechar em grande um casal de dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula), observação esta interessante por ser uma presença invulgar a sul do Douro na época de reprodução.

Todas as espécies observadas estão registadas no projecto da Montis do iNaturalist.

Rita

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