Colóquio MONTIS: Ecossistemas de pequenas linhas de água, como conservar?


A MONTIS organizou na passada quarta-feira, dia 22 de novembro, o colóquio "Ecossistemas de pequenas linhas de água, como conservar?”, que decorreu no Salão Nobre do Edifício Municipal de Mafra e que contou com o apoio da Câmara Municipal de Mafra.

O evento contou com a participação de 34 pessoas, num ambiente de partilha de conhecimento e opiniões bastante dinâmico.

O colóquio arrancou com uma breve intervenção da direção da MONTIS, representada por Teresa Mª Gamito. 

De seguida, Filomena Bexiga e Ana Carolina Ferreira da Câmara Municipal de Mafra, deram-nos as boas-vindas e apresentaram-nos as linhas de água que existem no município e os vários projetos em curso para a sua conservação, nomeadamente os que se alinham com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS). Destacaram a importância do colóquio para a capacitação dos técnicos do município e a aquisição de novos conhecimentos. Referiram também os desafios que o município enfrenta mas que reconheceram ser semelhantes a nível nacional, como, a título de exemplo, o risco de inundações e a expansão de espécies invasoras. 


Seguiu-se a apresentação de Pedro Teiga, da E.Rio – Engenho e Rio. O Pedro partilhou a "Reabilitação de rios e ribeiras do concelho de Mafra", bem como alguma “teoria” para a intervenção em pequenas linhas de água e alguns exemplos práticos de como podemos ter um papel ativo na sua conservação  e reabilitação, nomeadamente através de mudanças de comportamento como, por exemplo, no que toca aos resíduos. Destacou a importância de respeitar os leitos de cheia e apresentou os desafios para a conservação, como por exemplo a disputa que existe entre proprietários, pela terra presente nas suas margens. Mencionou também que a gestão das linhas da água contribui para todos os ODS e enfatizou como a biodiversidade associada às pequenas linhas de água e a sua qualidade da água estão interligadas com a qualidade de vida do ser humano, providenciando-nos variados serviços de ecossistema, podendo vir a ser objeto de custódia fluvial/ constituírem reservas fluviais. 


Sucedeu-se a apresentação de Ricardo Santos, da APA / ARHTO - Administração de Região Hidrográfica do Tejo e Oeste. O Ricardo partilhou a vertente legislativa associada à gestão de linhas de água, deu alguns exemplos do tipo de intervenções que podem ser realizadas, e demonstrou a abertura desta entidade para esclarecimento de dúvidas e disponibilização de manuais de boas práticas. O Ricardo destacou a dinâmica das pequenas linhas de água e os possíveis diferentes usos dos recursos hídricos, potenciados através de diferentes estruturas como, por exemplo, os microaçudes. Enfatizou a importância das galerias ripícolas e de se ter em conta o tipo de vegetação que as compõe, da proteção das margens e da desobstrução das linhas de água, com cortes seletivos da vegetação, mantendo árvores e arbustos e a vegetação herbácea dos taludes. 


De seguida, decorreu a apresentação de Luísa Pinto, da EDIA - Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva. A Luísa apresentou “Experiências técnicas em ecossistemas ribeirinhos no Alqueva”, e a forma como na empresa mudaram de intervenções “pesadas” para outras mais flexíveis visando a conservação da biodiversidade e como criaram uma Assessoria Ambiental destinada a apoiar os agricultores nestas matérias. Referiu também o envolvimento da EDIA no projeto Merlin que se foca no restauro dos ecossistemas de linhas de água, através de “Nature-based Solutions”.


Antes da pausa para café, foi lançado o debate sobre as primeiras apresentações. Foram discutidas diferentes metodologias de controlo de cana-comum (Arundo donax) e outra flora invasora nas galerias ripícolas, incluindo o uso de gado (aparentemente pouco eficaz) e várias possibilidades de insolação com tela negra (ainda em fase experimental), bem como algumas possíveis técnicas de plantação, incluindo a periodicidade da rega e as vantagens do recurso a “cocoons”.


No final do debate, teve lugar uma pausa para café acompanhado por doces regionais de Vouzela (o município onde está sedeada a MONTIS) e Mafra (o município que acolheu o Colóquio).


Dando início ao segundo painel de apresentações, Cláudia Gonçalves, da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, apresentou o projeto “Boas práticas agrícolas para a biodiversidade no contexto das alterações climáticas”, explicando o trabalho desenvolvido para incentivar a criação de apoios que permitam compatibilizar a produção agrícola de culturas economicamente relevantes com a promoção da biodiversidade, incluindo alguns casos de estudo e a proposta de medidas exequíveis, destacando os vários inputs da CAP para a revisão da Política Agrícola Comum, nomeadamente no que respeita à intervenção em galerias ripícolas. 

Posteriormente, Nuno Cabrita, da Mata da Machada, apresentou “Vale do Zebro, uma ribeira a dois tempos”, mostrando o trabalho desenvolvido para valorização desta ribeira intermitente, através do controlo de flora invasora e de intervenções de engenharia natural, nomeadamente para retenção de materiais finos, com recurso a voluntariado corporativo e a educação ambiental com escolas e também para a valorização da visita.

Seguiu-se a apresentação da MONTIS, pela técnica Inês Leão, que partilhou a experiência adquirida na gestão das pequenas linhas de água presentes nas propriedades sob gestão da MONTIS, e seus ecossistemas dando ênfase às ideias que a associação tem para intervenção futura, nomeadamente: dar continuidade à aplicação de técnicas de engenharia natural, fazer plantações e sementeiras para restaurar, ou mesmo criar, galerias ripícolas e diversificar habitats, controlar invasoras e infestantes, fazer a condução da regeneração natural, promover a diversificação de habitat, aumentar o conhecimento da biodiversidade presente nas propriedades e, até, instalar uma estação de biodiversidade na margem dos rios Paiva e Paivô. Colocou ainda à discussão as possíveis intervenções a realizar na propriedade da Malveira.

No segundo debate discutiram-se a metodologia que a MONTIS aplica nas sementeiras nas várias propriedades, os possíveis revestimentos do solo para apoiar a visitação na proximidade das galerias ripícolas, fugindo ao uso de passadiços, a forma como a CAP consegue fazer chegar boas práticas para a biodiversidade aos agricultores e a temática do voluntariado corporativo em contexto urbano vs rural.

Depois de almoço, realizou-se uma visita guiada à propriedade gerida pela MONTIS na Malveira, em que se foi explicando e discutindo as opções tomadas e a tomar, nomeadamente as relacionadas com técnicas de engenharia natural para recuperação da linha de água (ver aqui). 

Aproveitamos para deixar um agradecimento a todos os oradores pelas suas contribuições para este debate e um agradecimento especial à Câmara Municipal de Mafra, que nos abriu as portas de sua casa para realizarmos o colóquio, prestando uma grande ajuda com a logística do evento.



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