Carvalhos para Carvalhais

Enquanto me deslocava com dois dos voluntários do passado fim de semana em direcção ao Baldio de Carvalhais, dois estudantes de medicina veterinária vindos de autocarro a partir do Porto, falavamos da floresta em Portugal enquanto se espreitavam os carvalhais e as bouças, ora ardidos ora não ardidos, ao longo do caminho. "Well, I really like Porto but... I wanted to see a real forest. I miss the forest.", foram as palavras da Michalina, voluntária vinda da Polónia. Pensei: mas o que faz alguém de tão longe, de um contexto tão diferente, vir num fim de semana de chuva para Carvalhais, São Pedro do Sul, plantar árvores com a Montis? 
Ainda que as motivações sejam várias, a verdade é que o Guillermo, voluntário espanhol, era repetente na Montis. E era repetente porque gostou do que fez e do que viu no anterior voluntariado em que participou. 
E para nós não há melhor mote para dar início ao fim de semana de voluntariado que ver pessoas de contextos diferentes, com um interesse comum na gestão a favor da conservação da natureza, juntarem-se para pegar na enxada. O cenário melhora quando os repetentes trazem amigos, que esperamos que se transformem em futuros repetentes.
A acção tinha já começado no Sábado de manhã, com a plantação de 60 árvores enquanto a chuva foi permitindo. Três voluntários e dois técnicos da Montis andaram no Baldio de Carvalhais durante a manhã a plantar carvalhos na área recentemente queimada no segundo fogo controlado da Montis, nesta propriedade.



Com o aumento da intensidade da chuva acabamos por reunir no Bioparque do Pisão, e por ali almoçámos, aproveitando para trocar algumas ideias e pensamentos entre o grupo.
Com nevoeiro e chuva intensos no Sábado à tarde, o restante dia foi dedicado à instalação de câmaras de fotoarmadilhagem na propriedade. Acompanhámos o Nuno Neves na expectativa de que as nossas câmaras possam filmar e fotografar a bicharada que anda no baldio.
Deslocámo-nos ainda à zona nordeste da propriedade com os voluntários, à área do primeiro fogo controlado de Janeiro de 2017, onde a Montis tem investido grande parte das acções de gestão. Parte dos gabiões e paliçadas colocados ao longo das linhas de escorrência/ água estão a cumprir a sua função, retendo solo que servirá de base à instalação de vegetação e à criação de biodiversidade. A parte que não está a cumprir essa função, está a ensinar-nos o que não fazer no futuro. 


Caminhamos ainda ao longo das áreas plantadas nos últimos voluntariados, verificando que uma parte das árvores que plantámos foram retiradas, sobretudo os medronheiros. Entre os carvalhos plantados, algumas das árvores e arbustos que a Montis lá colocou estão a rebentar, nomeadamente os pilriteiros, assim como parte das estacarias de salgueiro realizadas ao longo da linha de água.


De volta ao Bioparque do Pisão, houve ainda tempo para preparar uns aperitivos com o que a natureza nos dá: um esparregado de urtigas e uma salada de umbigos de Vénus. Não sobrou nada.
No Domingo de manhã o dia começou bem cedo, e até às 12:30h o grupo regressou à zona norte da propriedade para plantar cerca de 200 carvalhos com o apoio do Fundo Ambiental, no âmbito do Prémio ICNF que foi atribuído à Montis em 2017. Se eles sobreviverem ao verão de 2018, terão boas histórias para contar.


As colinas rochosas nesta zona do baldio de Carvalhais despertam a curiosidade de qualquer aventureiro. E este grupo não foi excepção. Aproveitando o caminho aberto pelo fogo controlado através do mar de giestas, a Montis conseguiu pela primeira vez subir aquele que é possivelmente o ponto com melhores vistas dentro dos 100 ha que gerimos. As vistas são deslumbrantes, e mais do que isso, permitem olhar de cima para o que fazemos, e ter uma visão de conjunto que muito contribui para perceber resultados, e decidir onde e o que fazer.


O fogo controlado de Fevereiro permitiu-nos entrar em mais 13 ha de giestal, onde praticamente não há propágulos de autóctones, e iniciar neste fim de semana um conjunto de acções de restauro que acreditamos que sejam um empurrão a favor dos processos naturais.
Começámos com voluntários a plantar árvores, mas durante os próximos 4 anos, até ao próximo fogo, poderemos aproveitar o espaço aberto para conhecer melhor a propriedade, fazer sementeiras directas, técnicas de engenharia natural para criar solo onde ele é necessário, encher tabuleiros com sementes para que os gaios possam semear bolotas e conduzir a regeneração autóctone que entretanto surgir.
A Montis quer fazer isto com o envolvimento de muitos voluntários. E queremos este envolvimento sobretudo porque acreditamos que fazer conservação da natureza passa inevitavelmente por envolver (todas) as pessoas na gestão, de preferência com um olhar crítico e construtivo sobre as nossas acções.
A próxima acção de voluntariado é já no Sábado, dia 10 de Março no Baldio da Granja, em Valadares.
Fica o convite para que se juntem ao grupo.

Jóni Vieira


Comentários