O que aprendemos com o baldio de Carvalhais?

A MONTIS procura encontrar e colocar em prática soluções de gestão de terrenos que permitam, com poucos recursos, produzir efeitos significativos na alteração dos mosaicos de paisagem, sempre com o objectivo de aumentar a biodiversidade. Em alguns casos temos visto indicadores positivos. Noutros casos temos verificado resultados negativos, com os quais procuramos aprender, para no futuro fazer melhor. Uma coisa é certa: tentamos ser o mais transparentes possível, para que outros possam aprender com os nossos sucessos e com os nossos erros.

Estamos a chegar ao fim do ano de 2020, e como tal estamos a preparar a redacção dos Relatórios de Gestão das nossas propriedades. Recentemente visitámos a primeira área tratada com fogo controlado no baldio de Carvalhais, queimada em 2017. Aqui, as três áreas trabalhadas no pós-fogo controlado apresentam resultados bastante diferentes.

Limites da primeira área queimada com fogo controlado pela MONTIS no baldio de Carvalhais, em 2017, a vermelho. A verde, amarelo e laranja representam-se as principais áreas onde foram feitas acções de gestão. 

Na área verde, grande parte das árvores plantadas e semeadas está viva, mas apresenta um desenvolvimento muito reduzido para três anos de evolução. As plantações feitas variam entre os 10 e os 20 cm, o que é praticamente o tamanho com que foram plantadas. Julgamos que os principais factores que para isto contribuíram foram a reduzida disponibilidade de água, a falta de fertilidade do solo, o período largo de adaptação das plantas e, especulamos nós, o pastoreio. 

Felizmente ainda há um rebanho de cabras em Carvalhais que pastoreia o baldio. Este rebanho ainda vai gerindo a vegetação que de outra forma alimentaria incêndios no Verão, contribuindo também para a fertilidade da serra. Era bom que houvesse mais rebanhos na serra. A MONTIS está há alguns anos a tentar criar condições para poder ter um rebanho, ou gerir as suas áreas tirando partido dos rebanho de terceiros. 

Pontualmente o rebanho de Carvalhais passa nesta zona do baldio, e suspeitamos que as cabras dão naturalmente umas dentadas em parte das plantações. Julgamos que, juntamente com os solos pobres e falta de água no Verão, esta actividade poderá ser um dos factores para a diminuição crescimento das plantas.


Aspecto geral da área queimada em 2017. Ao fundo e do lado direito da imagem a área que ardeu. Em primeiro plano, à esquerda, o giestal que não ardeu.

Crescimento das árvores plantadas em 2017, na área a verde.

Crescimento das árvores plantadas em 2017, na área a verde.

A área a amarelo foi a que teve menos plantações. Grande parte das plantas morreu e as que sobreviveram apresentam dimensões muito reduzidas, à semelhança da zona anterior. O acompanhamento destas plantações pela equipa da MONTIS não foi tão próximo quanto o das outras áreas, pelo que não é possível avaliar nem especular acerca dos factores que influenciaram o crescimento das árvores. O solo aparenta ter uma baixa fertilidade e a disponibilidade de água também é baixa, acrescendo que esta zona possui alguma rocha.


Na área a laranja, em que foram feitas também várias sementeiras directas, a resposta da parcela nos dois anos a seguir ao fogo parecia bastante promissora. As plantações estavam viçosas e havia  uma germinação razoável de bolotas. Além disso nesta área existiam vários carvalhos com cerca de 0,80 a 1,50 m de altura, que reagiram muito bem ao fogo, e que estavam com uma boa recuperação. A MONTIS vinha a fazer a condução destes carvalhos com recurso a podas selectivas. Em 2019 as plantações, as sementeiras e os carvalhos em regeneração começaram a aparecer danificados.  Suspeitamos que as razões poderão ser a actividade do rebanho ou eventualmente algum corso. Já foram avistados corsos por voluntários da MONTIS próximo desta zona, na Primavera de 2019. Actualmente nesta área quase não há regeneração: os carvalhos que estavam a ser conduzidos secaram e as plantações e sementeiras praticamente desapareceram ou não apresentam desenvolvimento em altura. 

Estas áreas plantadas serão protegidas durante o fogo controlado a realizar entre o final de 2020 e o início de 2021, com a criação de faixas de descontinuidade em volta. 


Carvalhos que tinham resistido e reagido positivamente ao fogo controlado e que secaram recentemente.

O principal problema com que a MONTIS se tem debatido no que diz respeito ás plantações no baldio de Carvalhais é o arranque que é feito pelos javalis, logo nos meses a seguir às plantações. Além disso a impossibilidade de regar, os solos delgados e a exposição solar do baldio de Carvalhais tornam as taxas de sucesso das plantações reduzidas. 

O pastoreio tem uma relevância central na gestão em mosaico que a MONTIS procura potenciar no baldio de Carvalhais. Mas como é difícil ter "sol na eira e chuva no nabal", estamos a repensar como iremos gerir estas áreas no futuro, ponderando sempre os recursos que a associação tem disponíveis, procurando tirar partido da presença do rebanho e conciliando-o com a regeneração da vegetação. Até porque as árvores mortas serão todas replantadas, uma vez que fazem parte do compromisso assumido pela MONTIS com a Mossy Earth. Provavelmente o simples facto de as áreas plantadas não serem queimadas neste próximo fogo fará com que os herbívoros, domésticos ou selvagens, se concentrem nas áreas queimadas, onde o pasto será renovado, retirando a pressão sobre as áreas plantadas. 


Estamos a avaliar as restantes acções de gestão no baldio de Carvalhais e, em breve, será possível conhecer esses resultados na página da MONTIS, com a disponibilização dos Relatórios de Gestão de 2020.

 

Jóni Vieira

Comentários