Queimar para conservar?

A Montis tem como missão gerir terrenos com objectivos de conservação.

E usa, tanto quanto lhe é possível, o fogo nos seus modelos de gestão.

Esta opção é frequentemente objecto de muita estranheza por parte de que não está familiarizado com a ecologia do fogo e com o papel do fogo enquanto processo ecológico.

Mais estranheza ainda resulta do facto de usarmos fogos sucessivos, em períodos relativamente curtos, em algumas circunstâncias, como fizemos no baldio de Carvalhais.

A Montis gere cerca de cem hectares do baldio de Carvalhais.

Quando estes cem hectares nos foram entregues para gestão, eram essencialmente um giestal denso e contínuo, resultante do abandono de gestão e do padrão de fogo que lhe está associado, como fogos intensos, no Verão, com intervalos entre 10 a 15 anos.

A Montis optou por definir três parcelas, duas com cerca de vinte hectares e a terceira com cerca de 10 hectares, em que aplicará um plano de fogo controlado que prevê queimar cada uma das parcelas em anos diferentes, com intervalos de quatro anos em cada parcela.


Esta é uma imagem da primeira parcela em que executámos um segundo fogo controlado, quatro anos depois de a ter queimado pela primeira vez e a imagem é tirada poucas semanas depois do fogo ter sido executado.

Como é natural, essa parcela de vinte hectares queimou em mosaico, quer porque a acumulação de combustível está limitada pelo fogo realizado há quatro anos, quer porque se optou por subtrair algumas áreas ao fogo, criando faixas de contenção secundárias, de maneira a salvaguardar áreas de plantações ou regeneração em que nos pareceu que os benefícios do fogo seriam menores que permitir a evolução por mais quatro anos sem fogo.

A alternativa a esta opção teria sido a manutenção do giestal contínuo que arderia um ano qualquer, no Verão, com efeitos bem diferentes dos que se conseguem obter desta forma.

Em teoria haveria outras alternativas de gestão com corte, estilhamento e deposição da matéria orgânica, mas os recursos para essa opção eram simplesmente incomportáveis, razão pela qual é dominante o abandono, sendo bastante discutíveis as vantagens ambientais dessa opção face ao fogo controlado.

O essencial é que esta opção do uso do fogo controlado não corresponde a criar impactos semelhantes aos de fogos do Verão, corresponde a uma opção que evita os impactos dos fogos de Verão – mesmo que o baldio arda um ano destes, no Verão, os seus impactos serão bastante diferentes nas áreas que continuam cobertas por giestal denso e contínuo e nestas áreas em que o mosaico tem vindo a ser promovido com o uso do fogo controlado – ao mesmo tempo que promove diversidade, consolida o mosaico de nichos ecológicos e, juntamente com as acções de gestão que são feitas entre cada fogo controlado, acelerar fortemente a regeneração do solo.

Sim, nós queimamos para aumentar o capital natural, queimamos para produzir biodiversidade, queimamos para gerir património natural.

henrique pereira dos santos

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