Aos poucos vamos conhecendo mais (parte 1)

Há pouco mais de um ano, após os incêndios de 2017, protocolou-se a gestão da Cerdeirinha. Tal como referido em posts anteriores, a regeneração da propriedade tem tido uma evolução muito positiva. No entanto e apesar do esforço de intervenção na propriedade, os registos de biodiversidade na mesma eram poucos. No passado dia 24, no âmbito do projeto Montis do Fundo Recomeçar da Santa Casa da Misericórdia fomos até à propriedade fazer o primeiro bioblitz de observação e registo de biodiversidade na Cerdeirinha que se encontra no vale húmido e rodeado por carvalhas, amieiros e sobreiros na encosta da ribeira de Valadares.


Como iniciamos a atividade às 8h da manhã começámos por focar as atenções na avifauna aproveitando um dos picos de atividade deste grupo. Os primeiros a ser observados foram Carriça (Troglodytes troglodytes), Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) e Toutinegra-de-cabeça-preta (Sylvia melanocephala). E depois, caminhando pela estrada principal fomos observando, ouvindo e identificando, entre outros, Champim-real (Parus major), Chapim-carvoeiro (Periparus ater), Trepadeira (Certhia brachydactyla) e Tentilhão (Fringilla coelebs) a esvoaçar entre as copas das árvores e a cruzar os céus e a estrada à nossa frente.


Aqui e ali íamo-nos deparando com juvenis como por exemplo um Pica-pau-malhado-grande (Dendrocopos major)  que se via à distância a subir um pinheiro seco e no qual foi possível reparar na mancha vermelha na cabeça típica dos juvenis. Vimos ainda uma toutinegra com penugem desgrenhada típica de juvenil e uma Ferreirinha (Prunella modularis) que em juvenil é semelhante a um pisco com a penugem malhada.

Enquanto seguíamos, ouvimos uma vocalização que nos parecia ser de Águia de asa redonda (Buteo buteo) mas que podia também ser de Gaio (Garrulus glandarius) que são conhecidos pela capacidade de imitar outras espécies como estratégia de afugentar predadores (tal como o Pedro Cardia foi explicando que acontece com várias outras espécies).


Para além destas espécies foram ainda aparecendo alguns migradores de passagem, tal como tinha acontecido no bioblitz em Vermilhas, como é o caso do Papa-amoras (Sylvia communis), da Felosa-musical (Phylloscopus trochilus), do Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca) e do Papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata) sendo que os últimos por se alimentarem em voo de pequenos insetos mantêm o comportamento territorial mesmo fora de época de reprodução. Um pequeno detalhe para o qual o Pedro foi ainda alertando é para o facto de algumas destas espécies que são observadas em Portugal serem observadas cá apenas com plumagem pós reprodução, podendo ser diferente da plumagem de reprodução.


No bioblitz feito em Vieiro, perto de Deilão um dos registos mais interessantes tinha sido um casal de Dom-fafes (Pyrrhula pyrrhula) em plena época de reprodução. Na Cerdeirinha e apesar de já fora de época de reprodução existem bons indícios que também haja nidificação desta espécie pelo facto de termos avistado adultos de Dom-fafe acompanhados por juvenis.

Entre as observações de avifauna e algumas observações de flora que foram aparecendo como a
Baldellia alpestris, endémica da península ibérica e que tem um cheiro semelhante a coentros, num charco fora da propriedade, vimos ainda uma Doninha-anã  (Mustela nivalis) que se apressava para cruzar a estrada junto à propriedade mas que regressou rapidamente para o meio da vegetação assim que se apercebeu do grupo.



Prestes a dar inicio à parte da atividade mais focada na flora, identificámos Cia (Emberiza cia) uma espécie granívora que em época de reprodução caça insetos para alimentar as crias que necessitam de grandes quantidades de energia na fase de crescimento. Observámos ainda a pequena Estrelinha-de-cabeça-listada (Regulus ignicapilla) que por terem colonizado a ilha da Madeira onde existe uma espécie endémica e os Açores abriu a discussão sobre as migrações da avifauna. Por fim identificámos ainda Pombo-torcaz (Columba palumbus), Pica-pau-malhado-pequeno (Dryobates minor) e Tordo (Turdus philomelos) e no final da atividade, perto da hora de almoço, Águia de asa redonda (Buteo buteo).

Parte 2 com a componente da flora em breve.


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